29 outubro, 2014

PROJETO: MINIMA MORALIA NACIONAL - Materiais para uma teoria do protofascismo brasileiro

O tempo sombrio pós-eleição gera uma onda, não, um mar conservador. Tempo para realizar uma espécie de MINIMA MORALIA NACIONAL. Estilo do original: micrologias da vida mutilada em fase de individualismo neoliberal radical e estupidificação em série. 


0- Vamos contabilizando as vagas sucessivas de racismo e violência contida. É por um fio. Esse país infelizmente vai se revelando o que sempre a teoria crítica apontou que seria o caso no regime da mercantilização integral: é proto-fascista.
O Clássico:

I- "A lucidez e a estupidez da pequena burguesia.
No geral imperando agora um clima de histeria juvenil, preconceito e ignorância social e política, extremando em irracionalismo que não sabe pensar nos números e nas forças reais em jogo. Querem gozar a vida mas sabem inconscientemente que fracassarão diante do mercado de trabalho acirradíssimo da concorrência suicida global. A piada de emigrar para Miami ou Orlando, a terra do Pateta, é o seu imã, aquilo que os atrai e os repele: sabem que lá a sua chance de "vencer" seria mais reduzida e que perderiam os privilégios que aqui possuem como verdadeiros aristocratas. Daí é fácil fazer a operação mental: pôr a culpa no "governo" -- como se o de Aécio não tivesse prometido cortes para salvar apenas os lucros da burguesia e sucatear mais uma vez os serviços públicos --, o primeiro agente que eles percebem como alheio, estranho, demoníaco, como representante do capital global. Erram o alvo ao personalizar o capital num governo, mas falta-lhes totalmente a mira do conceito fornecido pela velha crítica da economia política".

II- 
Um líder da direita "informal" conclamando ao enfrentamento da nação contra a raça petista e por suposto: esquerdista socializante, improdutiva, o homo sacer exterminável. Fala limpa, fria, ódio calando fundo, no olhar assassino e nos dentes à mostra.
Enquanto isso "Vejo" isso diariamente nos ambientes paulistanos: o mainstream vai absorvendo desses grupos todo o vocabulário macarthista da guerra fria e neocon republicano estadunidense. Mistura de pensamento conservador, ultra-neoliberal, moralismo puritano e punitivo e demência proto fascista.




III- Sobre a crise hídrica invisível e por fim "inexistente".
Escrevam aí: isso não vai dar em nada. E mais isto: não vai ter crise hídrica em São Paulo. Entendam bem:pelo menos não para a classe dos abastados, que tem poços, compram caminhões pipa e aguentarão o tranco do caos inflacionário e do desemprego por um bom tempo. Com a ajuda da mídia isso não vai incomodá-los em nada. A não ser que bater na economia deles, o que não é totalmente certo ainda. Por outro lado, a crise será adiada até o ano que vem, pois aí virão as chuvas de novembro e dezembro. Lá pro meio do ano que vem os pobres aguentarão um racionamento espartano, com sentido de solidariedade e até de missão -- tudo com resignação ou muita bomba de gás lacrimogêneo.
A mídia irá fazer o trabalho perfeito dessa vez. E o PSDB ainda vai sair com a aura de ótimo gestor de uma crise da água em São Paulo. Alckimin será o campeão e pegará com Serra o trampolim para a presidência.
Parece brincadeira. Mas é o que eu sinto: a classe média encontrou finalmente o seu partido e a sua forma perfeita de governar: blindagem midiática, moralismo seletivo, capa falsa de tecnicismos e austeridade com os gastos, numa suposta gestão eficiente, lucrativa e parceira da iniciativa privada, enquanto na essência, o saque das contas públicas e dos recursos comuns. Em caso de merda coletiva irrecusável, resta delegar cinicamente a culpa para a instância federal ou para um fenômeno natural qualquer.

IV- Um relato de estupro por Aecistas.
 Não ia me pronunciar por aqui, pois achava que era muita exposição, e de fato é. Mas o caso se agravou, e deixou de ser "meramente pessoal" para ser uma causa coletiva, no qual envolve uma luta contra o machismo, racismo e xenofobia. Além de envolver divergências políticas.
O ocorrido foi a pouco tempo, pouquíssimo mesmo. Estava na Bambina, quando me deparei com uma mulher discutindo as eleições com três caras pró Aécio. Esses caras, alias escrapulos , vomitaram um discurso machista em cima da mesma, no qual eu tentei intervir.
Por acaso, outras pessoas tentaram intervir também, e uma delas era um homem com barba, no qual foi chamado de merda por "ser" Fidel Castro, me irritei mais e sim, fui agressiva. Mandei os três opressores tomarem no cu, em alto e bom som.
Já saturada de discutir e decidi ir embora do local. Estava indo pra casa do meu companheiro, mas fui abordada por um desses três caras perto de um dos pontos de ônibus da São Clemente, e fui agredida verbalmente com um imenso discurso asno de patriarcado.
Quando tentei me livrar de todo aquele vômito verbal e continuar seguindo minha rota, o mesmo não deixou eu prosseguir, me segurando a força. Os outros dois caras chegaram e se juntaram, para me violentar.
Fui arrastada prum beco, no qual me empurraram contra a parede e dissertaram frases sem sentido como "voces mulheres são geneticamente incapazes de entender politica e por isso o Brasil está uma merda. Porque a presidente é mulher".
Apesar das agressões físicas, continuei rebatendo e me impondo, até que pegaram minha bolsa e pegaram todo o meu dinheiro que era pouco, picotaram e tentaram enfiar a guela a baixo, dissertando "ué voce nao é anarquista ?".
Após isso me violentaram de vez, se é que me entendem, chegaram a picotar minha blusa. E disseram duas coisas que eu nunca esquecerei, a primeira foi: "nós eleitores do Aécico, só votamos nele pelos nossos interesses, sim é egoísmo", e a segunda foi: "estamos fazendo isso com você, pois é nosso discurso, alias politica se ganha na força e não com intelecto, e mulher só serve pra ficar na cama "
Ou seja, foda-se a população e voltemos aos tempos arcaicos do machismo MOR hahahahha, sim pra mim chega a ser comico, lembrar dessas frases, mas apesar de cômico, é recordado com MUITA dor !
Por sorte, quando estava no IML (Instituto Médico Legal), meu companheiro enquanto eu estava fazendo os exames, abordou duas mulheres que estavam na DEAM (Delegacia da Mulher) no mesmo tempo que nós, e percebeu que a descrição dos caras era a mesma.
Uma dessas mulheres Andréa Fidele, teve seu colo e uma parte de sua coxa chutada, por um dos caras, só por estar com um adesivo da Dilma, por ser negra e nordestina. Isso por volta de umas 1 a.m em Santa Teresa, no qual ele foi expulso do local. Por volta das 3:30 a.m fui violentada e estuprada por esses mesmo caras em Botafogo.


V- Roda viva pós-eleição: augusto nunes - o oligofrênico editor de veja - comandando o debate sobre as eleições. Em pauta as razões do fracasso de Aético e do Psd B e vitória de...
Pois bem, segundo a turminha de amigos de veja: o quê, cuma?, que fracasso?
Enquanto isso, o vocabulário inteiro da veja-globo vai sendo desfiado: mensalão, petrolão, fracasso de dilmão-sargentão à vista, miriam leitão é que entende de economia etc.
Na cúpula dos ideólogos, a mesma denegação e recusa fetichista da realidade da caixa baixa nas ruas. Na visão deles é o oposto: uma elite de gente entendida nos assuntos dos mercados assiste às reviravoltas cegas da democracia popular que elege uma máfia corrupta, estúpida e "inepta" (segundo Constantino). Os experts x os ladrões.
Vasilenskas tem razão: os figuras estão forçando a venezuelização do Brasil.

VI- A política do pão - e do circo involuntário.
"O Pensamento que se autodemole e ri de si próprio. Aécio não só prometia ampliar como reajustar os valores da assistência social. Afinal 3 ou 4% do PIB é um valor irrisório dentro do todo, barato demais e aliás feito na medida para quem prometeu cortar gastos estatais até o osso e fazer restar apenas o "mérito", enquanto, na surdina, finalmente, botaria de lado a política social distributiva dos bancos públicos. E enfim, todos sabem: o programa é um sucesso até mesmo no terreno econômico, já que multiplica cada 1 real por 1,70.
Não assim para o pensamento conservador que vê nisso tudo apenas o cabresto, a marionete do poder: será que essa turma já parou para pensar no ridículo: boa parte de quem votou em Aécio votou porque ele prometia justamente ampliar o programa e reajustar os valores? Quem é a marionete mesmo? O pão foi dado, o circo fica por conta dessa gente superinformada por memes e reportagens da revista semanal estrondosa"

VII-Largest Nazi March in Years in Cologne, Germany, Using ISIL Terror to Recruit; Cops Let them Attack Antifa
Over 4,000 nazis organized a march to promote their ideology in Cologne, using ISIL terror as motivation to gather more supporters for “white christian Europe”. It was the biggest nazi rally in years in Germany.
They attacked people and anti-fascists counter-protesting to warn against them using ISIL extremism so they can inflict their terror on non-whites in Europe.

VII- Mensagens de ódio cresceram 342% no segundo turno, turbinadas por grupos de extrema direita
A teoria que devemos consolidar: o tsunami "protofascista" brasileiro tem causas estruturais. Depois de duas semanas os efeitos passam e a onda baixa, mas não desaparece a estrutura.Na comparação com 26 de outubro de 2013, aumento nas denúncias chegou a 662,5% (http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/politica/eleicoes-2014/noticia/2014/10/mensagens-de-odio-cresceram-342-no-segundo-turno-turbinadas-por-grupos-de-extrema-direita-4629883.html) 

IX- Unidos para um colossal desastre -- Vide:.www.saopauloindependente.org --, sabendo muito bem do que se trata, sem medir nem forças nem consequências de seus atos, exatamente tal como Adorno percebeu a ascensão do poder nacional socialista alemão. As pessoas negligenciaram a ascensão de Hitler até que o ovo da serpente foi chocado e deu a luz ao monstrengo histórico. Quem não me diz que isso não parece ainda germe de uma espécie de "fascismo à paulista"?
Eis a morfologia de de uma simples crise de sucessão política. Imagine tudo isso precipitado numa crise mundial. A emancipação será o fruto da resistência de milhares de pesssoas lutando em milhares de frentes: crítica, prática, combate ao fascismo.
65 mil inscritos para o regionalismo separatista imaginário, que vai dar em nada, como sabemos. Unidos ironicamente para lamber as bolas do governador que vai mandar os cachorros pra cima se estourarem alguma vidraça. 


X-

UOL põe no ar chamada com Aécio eleito: virada inédita” http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/radar-da-midia/uol-poe-ar-chamada-com-aecio-eleito-virada-inedita/

Sede de virada, sede de vingança. Vingança contra o outro: o modo como o ethos da autoconservação na concorrência social global é internalizado e projetado nos vencedores de um pleito, rebaixando-os a párias sociais, os párias que supostamente os impede de continuar triunfando em sua perpétua esteira de rolagem no laboratório empresarial global qual ratos, só que párias de classe. Virada inédita seria apenas a emancipação dessa esteira. (Para as Minima Moralia Nacional).

XI- 
Para quem não viu esta aqui. (http://www.viomundo.com.br/politica/leitura-obrigatoria-para-os-que-nao-se-conformam-com-vitoria-de-dilma-nordeste.html)

O gigante acordou sim. É o gigante que resta da ditadura: ele está nas casas, nos carros, nas redes, e principalmente --- trabalhando para fazer mercadorias abstratas nos escritórios e fábricas.


XII - Terrorismo antes e depois da eleição: reação conservadora. 
A mídia monopolista vai cercando o terreno. Tal é a forma clássica de travar aquilo que fazia tempo guardávamos no baú de nossas lembranças teóricas, e que certamente deve ser usado com cuidado: a luta de classes.
Não temos de ter medo da divisão de classes. Mas é preciso saber fazer bem o corte para não ferir as alianças necessárias com setores progressistas. Vale constatar que os de cima, como disse antes, que já estão preparados e armados: com esse congresso a direita praticamente impedirá todo avanço. A burguesia e seus ideólogos já perceberam isso, só a classe média ainda não percebeu: venceu o PT e a esquerda com o congresso e esses governadores conservadores (6 por meia dúzia é o nome de uma manchete do estadão que escarnece do presente como se tivesse esquecido de que ama que nada mude mesmo, hehe). E claro, podemos em breve esperar uma forte campanha de impeachement.
Enquanto isso, a esquerda sai, medidas bem as palavras, em frangalhos. Só poderia trazer parte da classe média para si se conseguisse romper a ideologia neoliberal e meritocrática - missão quase impossível enquanto a crise estrutural no centro não der mais uma vez os sinais de que veio para ficar. Enquanto isso, devemos apontar as consequências de seu elitismo nos preconceitos que vem emitindo apontando a meritocracia como doutrina suicida de quem se deixa embutir na salsicharia da concorrência global. Mas o pior no Brasil é que nem mérito é, é privilégio, herança, esbulho social renovado.


XIV - Grande texto: Obrigado, direita!
http://jornalggn.com.br/noticia/obrigado-direita-por-rafael-castilho 

XV- A direita estúpida mas metida, sem remoques:http://www.viomundo.com.br/politica/rodrigo-constantino-propoe-divisao-brasil-em-dois.html

XVI- Coronel Telhada e o Separatismo paulista http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/apos-vitoria-de-dilma-coronel-paulo-telhada-do-psdb-pede-independencia-do-sul-e-do-sudeste-29102014 

XVII-Câmara derruba o decreto dos conselhos populares -- como era previsível.
Impossível quebrar o poder oligárquico no Brasil.
Congresso velho, conservador? Imagine com o novo, que é pior ainda. Uma boa notícia pelo menos: a Onda conservadora natural vai destruindo os sonhos até dos reacionários que imaginam que precisaria surgir uma intervenção militar para eliminar uma medida política democrática dessas.

XVIII- China leva o seu chão de fábrica para a África: 

O horror do produtivismo chegando na África. É isso que a classe média moralista adora: produzir, trabalhar, acabar com a própria vida e a do outro no trabalho alienado.

XIX -
 


XX- Aécio vence... em Miami ou na Suíça. De fato, ele é a cara de Miami ou Suíça, com seus paraísos fiscais e seus bancos-sombra, nunca a do Brasil real, de carne e osso. Uma figura de puro marketing.
A notícia é um resumo de um Brasil polarizado (nome que a mídia elegeu para nomear conceitualmente a luta de classes) entre a elite (e grande parte de uma classe média alienada e hegemonizada pela ideologia neoliberal, que sonha em pertencer à elite) e o povo de humilhados e ofendidos.

XXI - 
A falta da política no debate moral do sbt
Debate tenebroso e de baixíssimo nível (já ia dizer que digno da casa do Silvio Santos, rs.)
A estratégia de aecio é bater sempre no tema da corrupção e da ineficiência para atingir Dilma diretamente. Dilma rebate e desce o nível para o aeroporto do tio, o nepotismo da irmã e dos parentes, das rádios, do teste do bafômetro (q tema tosco!).
Aecio se sai muito bem dizendo que o que interessa são as virtudes públicas. A la Mandeville: vícios privados, virtudes públicas.
Ao final, depois de muita mentira a respeito do governo mineiro, que Dilma pouco conseguiu rebater, ele se saiu bem com as promessas de "profissionalizar" o Estado e a gestão, com honestidade, lembrando ainda que os tribunais não julgaram o PSDB porque "não tiveram provas" suficientes (nessa hora, dá vontade de correr, eu sei) . É isso que o povo, principalmente a classe média, criada dentro do recente imaginário meritocrático e neoliberal, quer ouvir.
Um paradoxo então se forma:
Quem mais deveria enfocar a vida pública, cai no privado, e quem defende o moralismo com vícios privados acaba como campeão da moral e da boa política.
Em suma, erro de Dilma e do PT: ao invés de focar a política e a economia, descer ao nível do privado, no limite da insignificância. Nenhum questionamento substancial a respeito de privatizações ou política externa, reforma agrária ou crescimento econômico de seu oponente.
Esperteza de Aécio e PSDB: enfocar o público e o político, mesmo que suas virtudes públicas, morais e políticas sejam uma lástima.
Com isso, percebemos em que furada estamos: um privatista ao velho modo da casa grande se torna a cara do povo e promete um governo da integração nacional. E o partido de representação da massa trabalhadora regride e praticamente foge dos grandes temas da crítica social e histórica do Brasil, dando o sinal de esgotamento de seu projeto de poder alienado das bases populares efetivas.

XXII - Práxis no tempo da urgência
Previsão antes da eleição. 
Já é possível imaginar o cenário nacional pós-eleição. Posso estar enganado, mas a ingenuidade é imaginar que tudo ficará dentro da normalidade.

Se o playboy oligarca de Minas vencer podemos antever uma onda triunfal da direita conservadora. Um novo desrecalque de ódio e preconceito de classe, que pode variar no tempo e no espaço: a tomada imediata das ruas por clamores vingativos, seguida nos próximos meses por uma grande campanha de impeachment, reverberando ideologicamente os símbolos nacionalistas da massa coxinha de junho, enquanto a esquerda e os movimentos sociais terão sorte se não forem acusados, perseguidos e criminalizados em bloco junto com a "esquerdalha" corrupta. Um passo perfeito para o terrorismo midiático dar o troco e novamente legitimar, como em junho, a polícia escorraçar tais movimentos das ruas, principalmente nos próximos meses de caos hídrico em São Paulo.
Se o tucanato perder é difícil dizer o que poderá acontecer. Merval Pereira já falou duas vezes em crise institucional e impeachment. Sem dúvida, uma outra onda conservadora irá se formar, mas agora limitada e dirigida contra os petistas, resultando no pedido de impeachment por parte das forças concentradas da oposição. Diferentemente de companheiros petistas não ponho a mão no fogo por eles e seus líderes, além do que provas ou teorias sobre provas especulativas também se forjam. Se nada for provado, porém, a revista e o canal de tv associado sairão queimadíssimos mais uma vez, e será a vez de o novo governo propor uma nova lei da imprensa, uma nova política de comunicações via democratização de verbas e canais alternativos. Será para eles uma espécie de morte por sufocamento, pois dependem muito das verbas bilionárias da propaganda oficial.
Em ambos os quadros, a esquerda não governista e antipetista (por motivos inversos aos do social-darwinismo da oposição) terá de se aliar para combater a ideologia conservadora e neoliberal que se difunde rapidamente pela sociedade, na esteira da globalização e de sua crise fundamental. Mas, se ela recair no erro de não explicitar a estrutura econômica autodestrutiva do capital subjacente às grandes questões sociais e ambientais, mais uma vez ela irá se perder na problemática moral ou comportamental, em que a direita se arroga o pedestal da santidade, desfechando o golpe no próprio queixo, soterrando a luta de classes que se esboça na presente divisão do corpo social.
A esquerda radical, anticapitalista, teria de reencontrar suas bases de massa na periferia, entre trabalhadores, estudantes, intelectuais, mulheres, negros, indígenas, pobres e excluídos em geral. Repetir o gesto de Marx: pôr um espelho diante das elites irresponsáveis, donas dos meios de produção e do consenso midiático, incluindo aí o Staff petista, refletindo não o céu da política, mas o chão da crise econômico-social e ambiental, que elas, as elites, não poderão se esquivar. O neoliberalismo triunfante precipitará a barbárie que havia sido acolchoada pelo modelo intervencionista. Gostaria muito de crer que este último, caso vencedor, só poderá vencer um congresso reacionário como o de 64 se topar realizar o aprofundamento de uma democracia popular capilarizada em mídias alternativas e no confronto com os monopólios e os latifúndios midiáticos, além dos rurais e urbanos. Uma coisa é certa: a normalidade está suspensa por tempo indeterminado. Tempo de práxis, urgente.





19 outubro, 2014

DISTOPIA HÍDRICA PAULISTA

Crise hídrica em São Paulo: em tempos de colapso generalizado do desenvolvimento, a utopia cede lugar à distopia

Pois, nesse exato momento, não estaríamos sujeitos a uma política do silêncio? O governo estadual não vem calando abertamente a Sabesp e a mídia? Muito provavelmente. Tudo para se reeleger em primeiro turno e apoiar o presidente para completar as obras do Tucanistão. 

O silêncio, no entanto, é bem mais radical do que isso. Porque podemos imaginar o que está por trás desse cenário preocupante: uma espécie de apocalipse.

Nessa hipótese distópica, a estratégia do silêncio serviria a um propósito claro: evitar o pânico, prevenir uma rebelião e mesmo uma guerra civil, que já começam a se esboçar em alguns lugares.


(Caminhão pipa escoltado pela polícia em Itú-SP).

Imaginemos a falta de água por meses seguidos, ou até anos, na maior região metropolitana e produtiva do país. Escolas, fábricas, empresas paralisadas. Manifestações generalizadas e polícia prendendo e descendo o cacete, com afinco, como de costume. Saques em supermercados. Estado de exceção e toque de recolher nas ruas. Massacres de pobres e excluídos. Presídios lotados -- e em rebelião. Invasões, roubos de água, enquanto as classes dominantes terminam seu processo de bunkerização, podendo comprar e armazenar água para si. Pobres vivendo em áreas de encostas de morro sem quase nenhuma água, ou com água contaminada. Surtos de doenças contagiosas por falta de higiene básica. Hospitais lotados. Poços artesianos insuficientes, secando rápido, assaltados ou em disputa selvagem. Milícias privadas escoltando carros pipa, o crime organizado respondendo à polícia. Ondas maciças de desemprego e de revolta, sem movimentos sociais organizados capazes de ordená-las, o que promete ser a reedição do individualismo de massas nas ruas de Junho. E pior, num país que elegeu um congresso conservador e reacionário. Apoiado pela grande mídia, esse governo esconde a estratégia tucana até o final, buscando deslegitimar toda tentativa de rebelião popular de massas não conformistas e não alinhadas (digamos: proto-socialistas). Cada um por si, todos contra todos. Ondas de refugiados e migrações  para fora ou para outras partes da cidade. Preço da água potável e dos alimentos em rápida elevação. A falência de empresas conduz o capital a saltar para mercados financeiros ou produtivos para fora da região metropolitana, inclusive para fora do estado. Miséria e arrocho salarial pelas mãos de um candidato neoliberal que vai governar para a elite privilegiada, supostamente meritocrática, e que ameaça mais privatização. E tudo isso num país que cedo ou tarde vai entrar em crise nos  próximos anos, devido aos reajustes de preço de eletricidade e combustíveis. 

Para saldar os gastos, mais medidas de emergência, mais cortes em investimentos estatais, mais privatizações, mais repressão contra essa guerra civil canibal-nuclear-zumbi que se avizinha em nossa imaginação distópica.

15 outubro, 2014

Teoria do golpe a conta-gotas: sobre a crise da água em São Paulo

Os golpes modernos são feitos a conta-gotas. As pessoas aguardam, passivamente, colocando a culpa nas forças divinas. 

"Se seca continuar, a água termina em novembro, admite o presidente da SABESP. "

Só agora o Estadão resolve avisar seus leitores da seca e do racionamento?! Cinismo esclarecido é assim que funciona. 

O fato é que o governador provavelmente ordenou que a Sabesp fechasse o bico sobre o tema espinhoso. Na submanchete do jornal, a verdade sórdida, que o jornal evitou o quanto pôde: "Presidente da Sabesp diz que Justiça Eleitoral barrou propagandas e que não podia falar a palavra 'seca' e sobre gravidade da situação" (O Estado de São Paulo,15.10.14)

E assim saem todos impunes. Esperam a impunidade. O governador dá o golpe, os jornais repassam o golpe aos eleitores. Exatamente há duas semanas depois do primeiro turno. Curioso: ninguém diz que o PSDB aparelhou a SABESP.

No editorial da Folha de São Paulo (http://naofo.de/1lph): ricos entre si, conflitando. A mídia cobra medidas do governador e da SABESP, sem maquiar o cenário catastrófico que se avizinha. Incrível. A desfaçatez e a estupidez atingem as raias do absurdo. Usam até mesmo os argumentos da esquerda nesse editorial, os argumentos que evitaram o tempo todo: "a incúria das gestões tucanas que comandam o estado desde 1995. E os seus pressupostos, além da seca atípica: os relatórios técnicos que avisaram sistematicamente sobre a insegurança hídrica da região metropolitana, a irresponsabilidade do governador que privatizou a empresa pública ou a fez funcionar segundo a lógica do lucro e da distribuição de dividendos para acionistas. 

O golpe eleitoral, no entanto, está consumado. Com a ajuda do golpe midiático de sempre.

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Parêntese teórico: "Pois bem, de 2005 a 2013, os lucros da Sabesp, em valores corrigidos, atingem R$ 13,7 bilhões.Seu patrimônio líquido, R$ 12,9 bilhões. O que significa rentabilidade média neste período  (lucro frente ao patrimônio líquido) foi  de 11,86%. Os dados são de balanços da própria empresa.
A Sabesp, portanto, é altamente lucrativa e poderia reaplicar os ganhos na ampliação dos serviços à população.
RENTABILIDADE DA SABESP
Os lucros de 2005 a 2013 dariam para construir seis vezes o Sistema Produtor de Água São Lourenço, cujas obras tiveram início somente em 10 de abril deste ano."

http://www.viomundo.com.br/denuncias/governo-alckmin-embolsa-50-dos-lucros-da-sabesp-e-ainda-reduz-investimentos-em-agua.html

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Está para ser escrita, então, uma nova teoria do golpe a conta-gotas. 

Penúltimo capítulo: SABESP mete o loco no Cantareira. 
"SABESP desobedece Justiça e retira do Cantareira água sem aval, aponta vistoria" (Estadão, 15.10.14). 

Último capítulo, a provável gota d´água: "sem aval", a população organizada invade o palácio do governo e a câmara e pede o impeachment desse governador privateiro irresponsável. 



Restam-nos 15 ou 20 dias de reservas, senão menos. 

Gota derradeira: "Vereadores e diretor da SABESP rezam por chuva em Franca" (OESP, idem).

Vão rezar também para a massa crítica se calar engolindo seu próprio sangue, suor e lágrimas? 

A ver. 

Bob Klausen 

Reificação e desreificação da consciência

Como é que a classe dos "informados" vai entender as implicações do monetarismo do seu candidato neoliberal? Será que desenhando ela entende?

Alguém dirá: o raciocínio é impenetrável também para a classe trabalhadora. Será mesmo? Os trabalhadores já compreendem primeiro no bolso e depois no modo de vida cotidiano a mudança e a possível destruição de tudo que foi conquistado. A classe trabalhadora foi abalada e sabe que pode perder tudo tal qual "ganhou" pelo trabalho --- daí grande parte se assustar com o ataque midiático que prega o puro caos econômico -- e assim, ela também vota inconscientemente no inimigo de classe. O PT, dizem alguns, prega o medo. Não é bem assim. As circunstâncias reais são desfavoráveis na economia mundial atual. E são de meter medo, caso um modelo neoliberal vença. A crise é objetiva, mas alguns a transformam em terrorismo econômico e em caos espetacular-midiático no contexto de um governo que tem adiado a crise, com reservas internacionais razoáveis (350 bilhões de dólares). As estruturas sociais estão abaladas, a representação não representa mais nada. Por outro lado, a divisão social das classes começa se esboçar, e assim surge ao mesmo tempo a brecha para a ascensão conservadora e reacionária, para a cegueira, o irracionalismo e o fundamentalismo mais estúpidos, tanto quanto para uma verdadeira unidade de classe entre os de baixo. No entanto, essa dialética patina e se esfuma momentaneamente.

Isso posto, é importante ver o outro lado da história: a classe trabalhadora também sabe comparar o passado ossificado ao presente recém transformado e aberto à mudança. Ela sentiu a história, desnaturalizou parte dos processos coisificados e assim também, em parte, politizou o debate (percebeu que a política interfere sim na economia, que deixa então de ser um puro fetiche de cartas marcadas). Se o PT tivesse forçado uma politização do debate histórico e formado um consenso democrático contra as elites ele ganharia a hegemonia que conquistou no final dos anos 2000, trazendo essa classe média conservadora para o seu lado, contra-a-corrente mundial neoliberal e agora francamente anti-socialista.

Bob Klausen 

A audição materialista da política eleitoral

Debate sob audição materialista:

Ouvido direito: "eu quero fazer o governo da convergência, da solidariedade, da família cristã, blablablablá"

Ouvido esquerdo: "neoliberalismo, cortes nos gastos sociais, Armínio Fraga, privatização, meritocracia, elitismo, tecnocracia, racismo, agronegócio, nova Alca, heliococracia"...





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O tique Bráscubiano de Aético: o sorrisinho ensaiado, cínico, escarnecedor. O povo percebe que isso é fake, uma estratégia de marketeiro. Repetido roboticamente torna-se efeito oposto, revelando o feitiço. Machado de Assis usou e abusou dessa técnica. 

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Como um dos editores da revista Veja   fabula a cena:


"Aécio Neves é articulado e trata o idioma com carinhoso respeito. Dilma Rousseff  tortura a gramática, desfere pontapés na ortografia e não consegue convencer o sujeito a andar de mãos dadas com o predicado.
Provido de uma cabeça sem avarias, ele se expressa com clareza, raciocina com agilidade e lida muito bem com improvisos. Portadora de um cérebro baldio, ela amontoa frases que não fazem sentido porque vivem procurando inutilmente o verbo que sumiu, um adjetivo arredio ou o ponto final que teima em não chegar e, sobretudo." (http://naofo.de/1m2p)

Sobretudo o quê? A frase termina abruptamente. Mimese de seu objeto ou falha do articulista? Não parece mais um ato falho que aponta quem é o verdadeiro caos sintático a ser regrado? O que o blogueiro sente é o triunfo da superfície retórica, da prática ensaiada por marketeiros, com seu sorrisinho malévolo de classe dominante. Assim, não é de espantar que praticamente nenhuma palavra é feita sobre o conteúdo do debate. Ao contrário, aqui ele adentra o "terreno perigoso da lenda": 
"De bem com a vida, Aécio sorri e acha graça com naturalidade. Amargurada com o que vê no espelho, Dilma é uma carranca prenunciando permanentemente outro chilique e pertence à tribo que não entende a piada. 
Aécio quer fazer em escala ampliada o que fez em Minas [!!]. Dilma promete fazer o que poderia ter feito nos últimos quatro anos." 
Sofisma que se revela na valorização final da imagem do homem feito para ser naturalmente presidente:
"Quem assistiu ao debate viu um homem com jeito de presidente e uma mulher com cara de quem desconfia do desemprego iminente. O debate na Band pode ter consumado a demissão".
A única demissão assegurada, no entanto, é a da inteligência crítica. A mídia menos oligofrênica reconheceu a força dos ataques de Dilma. A bolsa caiu. A fala desarticulada de Dilma é a marca dos desvalidos da cultura em sua luta contra as forças obscuras.
Bob Klausen

13 outubro, 2014

A Zumbilândia Eleitoral

1-


O clima político-eleitoral no Tucanistão (ex-São Paulo), em bairros de classe média alta em que eu trabalho, tornou-se angustiante e mesmo perigoso. Nunca vi coisa parecida, talvez só na campanha de caça às bruxas de 89. Imagino como deve ter sido a campanha anti-jango em 1964.


2-

Aécio aparece como um campeão da ética e da boa gestão. Ninguém desconfia de que ele é um boneco de papelão criado pelo marketing. Simplesmente nem imaginam que seu governo em Minas foi um desastre e um fiasco em relação aos serviços públicos mais essenciais, nem conhecem sua atuação antipopular como senador (contra a valorização de salário mínimo, atuação nula etc.).


3-

"Votar em Dilma" aparece nesses meios quase como se confessar como adepto de uma seita satânica. As pessoas não acreditam que pessoas "pensantes" votem a favor da "quadrilha petista". A economia parece um caos, e o clima de terror impõe o FMI, o Financial Times e as Bolsas como a voz da Razão na história. O ódio foi destilado pela mídia no mais puro grau, partindo do conservadorismo estrutural, do autoritarismo e do protofascismo do atual estágio da socialização mercantil.



4-

Aqui o centro de gravidade da política para uma crítica à esquerda do próprio PT: formar os jovens -- em boa parte "marineiros" de primeira viagem, que foram às ruas em Junho nas capitais do país (sem esquecer a massa passiva e ausente) --, jovens que caem facilmente no discurso anti-corrupção insuflado pela mídia. Repetem chavões na mídia como zumbis cheios de ódio. O humor é puramente reativo, pleno de influxos de um superego rígido que manda gozar "em ordem", gozar da lei "dentro da lei", em um país que não tem lei aparente, a não ser a lei neoliberal, que eles no entanto desejam para si enquanto sujeitos da concorrência total.

5-

São muito inocentes para perceberem a pauta moralista seletiva e a luta de classes em curso nesse momento. Desconhecem por inteiro conceitos como neoliberalismo, dominação social ou luta de classes. O público médio dos jornais e desses bairros citados não tem noção adequada de economia e de política, desconhece história, ou tem acesso apenas a versões ideológicas da história criadas pela direita. E se acham cheios de si, meritocratas, num país aparentemente imerso no puro caos econômico. Os jornais reforçam o ódio mapeando que quem vota em Dilma ganha mais bolsa família mesmo. Ou seja, é ignorante e tem um voto comprado.



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Contudo, se há alguma coisa como uma negação dialética implicada nesse processo, ela está sob o nosso nariz: o jovem quer mais educação. Duvido muito que a manipulação que estamos vivendo aconteceria se a discussão democrática na mídia estivesse de fato instaurada. Uma lei de democratização dos meios de comunicação é urgente, bem como a requalificação do ensino em geral. Pois bem: os investimentos razoáveis em educação dos últimos anos são um ponto de comparação que combatem a campanha do PSDB, fundada veladamente em cortes nos gastos sociais nesse campo.



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Outra coisa: o paulista médio, criatura das práticas neoliberais e "meritocráticas", reproduz o preconceito contra o pobre nordestino que vota em Dilma, mas sabe reconhecer na hora h que isso não passa de elitismo tosco e pode acabar em fascismo. Ele tem vergonha de se reconhecer no espelho. Não poderia ser diferente num povo herdeiro de uma tradição católica e caipira, profundamente arraigada: o povo que apoia a ditadura de 64 mas se arrepende assim que os porões da tortura começam a gritar. O conservadorismo das elites e de parte dessa massa é a essência obscena, mas a fachada "cool", "cosmopolita", "politicamente correta" nessas horas pode ajudar a trazer as pessoas para a razão e para a sensibilidade diante dessa essência fascista moderna. Quebrar um intelecto abstrato como esse é uma tarefa de Hércules.


8-

Esses dois caminhos podem ser ingênuos, mas é o que eu vejo por enquanto como o possível.


Bob Klausen

11 outubro, 2014

Eleições 2014: tática espetacular x crítica materialista

Duas coisas poderão fazer Aécio vencer a eleição:

1) o foco central na corrupção (absoluta e exclusiva) dos petistas e na provocação da indignação seletiva da classe média, que desconhece ou já esqueceu a corrupção e a privataria tucana dos anos 90. 
2) O foco na ideia de crescimento da economia via sabe-se lá como, senão com promessas de mais livre comércio e apoio à livre empresa (como se o PT não tivesse feito isso).

Ambos jogam com a aparência dos fatos e processos e com a imagem do candidato bom moço, playboyzinho, a cara da classe média. Essa componente Imagética, emocional e irracional é muitas vezes tudo, como sabemos desde Collor.

COM ISSO, NOTE BEM, O PROJETO ECONÔMICO E SOCIAL DELES vai pra debaixo do tapete.
Coloquemos aí na nossa continha as promessas realmente existentes, as que nunca aparecem de todo, e se camuflam na fala técnica de tipo "espetacular" de Aécio, Fraga e cia.:

1) Rever a política de salário mínimo e dos salários em geral e as leis trabalhistas, pois segundo Arminio Fraga eles estariam emperrando negócios e muito fora dos padrões de produtividade globais; ou seja, vem aí flexibilização de tudo, valendo talvez até trabalho semiescravo. 
2) Privatização dos presídios e redução de maioridade penal, ou seja, começa com presídio, que virará uma fábrica de fazer presos pois darão lucros, e termina-se sabemos bem onde: em tudo o que pode dar lucro para a iniciativa privada.
3) "Choque de gestão" neoliberal e meritocrático no serviço público, ou seja, uma lógica individualista e egoísta na gestão da coisa pública, que ao mesmo tempo a sucateia, reduz quadros de funcionários públicos e institui recompensas monetárias e números abstratos como metas absolutas. 
4) Política comercial mais aberta com os EUA e o mundo, ou seja, uma nova Alca, com outro nome, nos aguarda no fim do túnel. 
5) Banco Central independente e redução do gasto público ao fundamental para o capital.
6) Redução do papel dos bancos públicos, segundo Fraga novamente, ou seja, não vai sobrar dinheiro para financiar casa popular e outras coisas que esses playboys neoliberais, os Chicago boys, gostam de chamar de "políticas populistas".




Se o PT não colocar essas cartas econômicas na mesa, adiantando seu plano para a crise que vem em 2015 e 16, Aécio vence fácil, mais fácil por causa dos escândalos e acusações espetaculares, que podem ser apenas mentiras do ex-diretor demitido por Dilma.

Então, politizar o debate é trazê-lo para o chão econômico. Contra moralismo seletivo, aparências e discurso liberal light (escondendo seus pressupostos) ninguém pode. 

Ou pelo menos como a tradição brasileira ensina (devo essa "deixa" a Manoel Dourado Bastos), quando a personagem cínica se alia a seu narrador não confiável (mídia monopolista) a eleição do ticket da barbárie neoliberal está com o caminho preparado. Machado de Assis foi o primeiro a mostrar esse conluio entre narrador não confiável e as personagens da elite em seu romance de segunda fase. 

Música de fundo moderna disso tudo: a bossa nova, a música aérea das elites, planando sobre a catástrofe social circundante. 



Bob Klausen