Debate sob audição materialista:
Ouvido direito: "eu quero fazer o governo da convergência, da solidariedade, da família cristã, blablablablá"
Ouvido esquerdo: "neoliberalismo, cortes nos gastos sociais, Armínio Fraga, privatização, meritocracia, elitismo, tecnocracia, racismo, agronegócio, nova Alca, heliococracia"...
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Como um dos editores da revista Veja fabula a cena:
"Aécio Neves é articulado e trata o idioma com carinhoso respeito. Dilma Rousseff tortura a gramática, desfere pontapés na ortografia e não consegue convencer o sujeito a andar de mãos dadas com o predicado.
Provido de uma cabeça sem avarias, ele se expressa com clareza, raciocina com agilidade e lida muito bem com improvisos. Portadora de um cérebro baldio, ela amontoa frases que não fazem sentido porque vivem procurando inutilmente o verbo que sumiu, um adjetivo arredio ou o ponto final que teima em não chegar e, sobretudo." (http://naofo.de/1m2p)
Sobretudo o quê? A frase termina abruptamente. Mimese de seu objeto ou falha do articulista? Não parece mais um ato falho que aponta quem é o verdadeiro caos sintático a ser regrado? O que o blogueiro sente é o triunfo da superfície retórica, da prática ensaiada por marketeiros, com seu sorrisinho malévolo de classe dominante. Assim, não é de espantar que praticamente nenhuma palavra é feita sobre o conteúdo do debate. Ao contrário, aqui ele adentra o "terreno perigoso da lenda":
"De bem com a vida, Aécio sorri e acha graça com naturalidade. Amargurada com o que vê no espelho, Dilma é uma carranca prenunciando permanentemente outro chilique e pertence à tribo que não entende a piada.
Aécio quer fazer em escala ampliada o que fez em Minas [!!]. Dilma promete fazer o que poderia ter feito nos últimos quatro anos."
Sofisma que se revela na valorização final da imagem do homem feito para ser naturalmente presidente:
"Quem assistiu ao debate viu um homem com jeito de presidente e uma mulher com cara de quem desconfia do desemprego iminente. O debate na Band pode ter consumado a demissão".
A única demissão assegurada, no entanto, é a da inteligência crítica. A mídia menos oligofrênica reconheceu a força dos ataques de Dilma. A bolsa caiu. A fala desarticulada de Dilma é a marca dos desvalidos da cultura em sua luta contra as forças obscuras.
Bob Klausen
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