19 novembro, 2014

A linguagem da nova direita brasileira

O nível de reificação e de empobrecimento da linguagem atingiu o grau máximo nesses grupos de extrema-direita (olavianos, revoltados on line, neoliberais, ultraconservadores, adoradores da Rota e reacionários pró-intervenção militar).
Quem não conhece, sugiro que entrem em pelo menos um desses grupos para conhecer algumas tendências sociais profundas, da maneira mais purificada e destilada, e que aparecem menos desenvolvidas em outros grupos sociais da classe média "informada". O texto abaixo ajuda a caracterizar essa linguagem.
Parecem zumbis, que apenas repetem fraseologias e ditos mágicos, de preferência em caixa alta, sem temer colocar todo o seu preconceito e seu ódio incontido para fora, pregando não apenas golpe militar, mas assassinatos em massa de qualquer coisa que lhes pareça com o petismo e com a esquerda em geral. Para eles, absolutamente tudo está ligado aos "petralhas" -- e essa ligação sistemática inabalável é um forte índice de paranoia coletiva protofascista. É uma lógica muito parecida com a do bode expiatório judeu e a subversão comunista. Imaginam que só uma intervenção militar sanguinária bastaria, sem reflexão alguma, sem medir as consequências desse ato, as revoltas que se seguiriam etc. Absolutamente tudo é culpa do PT. Quando você percebe que é isso que está em jogo
O estarrecedor é perceber que a grande mídia direitista (Veja, Estadão entre outros) não é mais do que uma versão mais elaborada da mesma reificação.
Duvido que isso, essa regressão, ocorria nos anos de guerra fria e de lacerdismo, nos 1950 e 60. É algo para se pesquisar.

Bob Klausen 

Legenda para uma foto




"Meritocracia: aqueles meninos no escorregador trabalharam muito no passado e agora podem brincar. O outro, preguiçoso, não fez nada e agora é forçado pela justíssima e poderosa mão invisível". (Thiago Lion)





Meritocracia no Brasil: um novo grande mal entendido

Segundo a fórmula célebre de Sérgio Buarque de Hollanda, no Brasil a "democracia sempre foi um grande mal entendido". O mesmo poderia ser dito sobre a ideia de "meritocracia" no país. 

Na verdade, há algo de profundamente autoritário na ideia de meritocracia em geral, que é multiplicada por dez no Brasil patriarcal, autoritário, da gente proprietária. Como se sabe "cracia" é poder: o poder de uns sobre outros, que na democracia sai relativizado como o poder da maioria, ou como a capacidade de discussão e decisão coletiva entre iguais, para além do poder econômico de cada um.

Na meritocracia o poder está com o sujeito econômico de destaque. Ela corresponde diretamente, enquanto ideologia, à forma cega e fetichista do valor. Mas quem define o que é mérito aqui? O mercado, a concorrência, as leis do darwinismo social, e, no Brasil, em especial, a cadeia de privilégios sociais dinásticos, o racismo velado e principalmente a lógica do favor e a regra personalista.

País de meritocratas sem mérito, pior, de escravos historicamente defendendo a própria cela meritocrática, sempre prestes a rebaixá-los a um mero pedaço de natureza "inepta" e "preguiçosa".

Bob Klausen

11 novembro, 2014

"O Brasil vai virar Cuba! - e tudo mais que o fascismo quiser

Não, o neoliberalismo não faliu em 2008. Ele é a substância da ideologia mundial do capitalismo globalizado. Não é preciso defender o modelo cubano nem em partes, muito menos integralmente para perceber que frases como "O Brasil está virando outra Venezuela ou outra Cuba" são ignorância e despreparo intelectual no mais alto grau. Quem diz isso simplesmente desconhece que a economia atual é feita de monopólios privados, e que mesmo as empresas estatais funcionam sob a lógica do lucro.

É bem mais simples que isso, no entanto: quem pensa que o Brasil virará socialista em breve desconhece que o neoliberalismo tem a hegemonia ideológica total sobre a sociedade, os meios de comunicação e a consciência. Um atestado de burrice política: é desconhecer que a economia capitalista não tem mais volta e ruirá, se um dia ruir, por suas próprias contradições internas.


O neoliberalismo não morre mais -- ao menos enquanto o sistema capitalista existir --, pois ele brota do cerne da forma do valor, que é também a protoforma da consciência reificada. Basta a ideologia para sustentar o sistema, mas a ideologia se fundiu à base produtiva (Adorno), e é uma coisa só com o sistema global. 

Como células isoladas de dispêndio de trabalho abstrato e consumo, os indivíduos desta sociedade provavelmente nunca abandonarão seu modo de vida produtivista e consumista e jamais pensarão que um modelo como o cubano, que garante a mínima igualdade de condições básicas (apesar do autoritarismo e da concentração do poder), pode ser um feixe de luz de experiências acumuladas num contexto de escassez de recursos naturais e de pós-escassez de bens fundamentais, numa eventual economia pós-capitalista.

AUm dos índices mais fortes de protofascismo provavelmente é essa nuvem de mentiras, boatos, acusações falsas e enganações descaradas que ficam impunes na mídia e na opinião pública. No novo clima de macarthismo em que estamos, nada passa de ideologia em estado bruto, de preferência cristalizada em memes de facebook. 

O fascismo em tudo isso? Está pressuposto nessa lógica do poder de dobrar, violentar e inverter tudo, metarmofosear todo conteúdo para um fim autoritário e falso. Como dizia Guy Debord: na sociedade do espetáculo o verdadeiro é um momento do que é falso.
Bob Klausen 

A imprensa a favor da privatização da Universidade Pública

Está aí a notícia do elitismo desavergonhado: "Folha de S. Paulo volta a defender cobrança de mensalidade na USP". (http://spressosp.com.br/2014/11/08/folha-de-s-paulo-volta-defender-cobranca-de-mensalidade-na-usp/)

No Tucanistão os serviços básicos como água, saúde e educação serão sucateados e praticamente privatizados ou de acesso individual conforme a renda. É um projeto de poder. Tem gente que aplaude. Tem gente que sai na rua em defesa desse governo.

Seu esporte é colocar a culpa no governo federal, ou no PT, mesmo desconhecendo as mediações históricas e econômicas do processo social. Passam no vestibular, são ótimos nas exatas, mas desprezam profundamente a dimensão histórica e sociológica dos problemas.

Mas eu não diria que são ingênuos. Por trás disso há uma espécie de vontade de ser elite, de duplo preço a ser pago para ser top. Um elitismo anticaipira quatrocentão, também localista e "acaipirado" ao seu modo, avesso aos direitos sociais fundamentais e a toda noção de igualdade de fato ou até de condições, que quer excluir definitivamente as camadas médias e pobres dos cursos visados pelas elites. Cursos que, aliás, é o mercado quem escolhe por elas, e gera sofrimentos imensos em seus alunos pela falta de sentido em todo o percurso universitário (sem verdadeira universalidade).

O que pensar? Para nós, talvez, mais um caso gritante de masoquismo histórico. Mas tudo bem, para a classe média em geral nunca se tratou de outra coisa: o que importa não é ser pisado e eventualmente esmagado pela concorrência, mas pisar em alguém, com alguma honra ao "mérito". Continuarão fiéis ao governador e a seu partido. Pois em São Paulo a hegemonia deles se tornou quase total. 
Bob Klausen

Sobre Luís Nassif: O Xadrez da batalha do impeachment

Um bom texto de Luis Nassif (http://jornalggn.com.br/noticia/o-xadrez-do-jogo-do-impeachment-por-luis-nassif) de sociologia do poder e da mídia, com uma forte pitada de "futurologia" para os próximos dois anos.

Sinta o buraco ou o campo efetivo das lutas, que é mais embaixo ou mais amplo do que aquele jargão velho de guerra sobre as massas, as multidões ou "as ruas", que sempre foram um mero peão marginal dentro do campo de batalha entre elites, a mídia, a classe média e seus gestores. Em suma, as grandes peças do xadrez político nacional ainda são as forças reificadas nas altas esferas.

Porém, o sujeito que tem pouco peso nessa análise é o o capital, em processo de crise, a economia real entre inflação, ajustes de preços e concorrência global. Vai ser quase impossível governar à esquerda nesse momento, confirmando a paralisia da política.

Por outro lado, ainda, vai ser difícil para a mídia conciliar o seu denuncismo moral com falta de verbas publicitárias por parte de governos e empresas. No fundo, tudo vai depender do que sair de fato concreto da operação Lava a Jato. E parece que vai ser pouco, pois os partidos fizeram o famoso "acordão" para não jogar merda no ventilador coletivo.

Bob Klausen

02 novembro, 2014

A espuma, a onda e o mar conservador brasileiro (e mundial)


A tese da onda conservadora precisa ser criticada, mediada e superada. A dialética permite ver a mediação dos opostos dentro da práxis do que poderíamos denominar "homo economicus liberal": o mesmo no outro, o outro no mesmo, principalmente em países de modernização conservadora como o Brasil. 

1- 
As manifestações de hoje -- FORA PT - Impeachment - Intervenção militar -- foram minguadas, principalmente as de fora da capital reacionária maior, São Paulo. Mas, para eles, colocar 3 mil na avenida Paulista foi um verdadeiro sucesso. Inacreditável a dois anos atrás.

Estão comemorando loucamente pois nem eles creem que foram capazes de suspender seu individualismo de massa ordeira e passiva e gerar alguma coisa coletiva e (re)ativa. Disseram ser 35 mil nas ruas hoje. No Brasil, 125 mil, outros dizem 300 mil (!). Gostaram da coisa. Botam fotos de manifestações de junho como se fossem de hoje; a praga mitomaníaca os leva longe no delírio.

A mídia golpista que os alimenta (globo, veja, estadão, band) praticamente os desprezou, pois sua bandeira é demais agressiva, demais explícita neste momento. Mas servirão como um bom ensaio do que pode advir na sequência com o possível processo de impeachment.

Doravante, se provas forem urdidas, ela poderá destravar a língua e incitar a massa abertamente ao "fora PT" mundial. Numa imagem aproximada, os reacionários de extrema-direita foram hoje uma espécie de "gasolina incendiada" sobre o mar de óleo conservador da direita. Falta pouco para esse mar oleoso pegar fogo. Basta a chama -- e o chamamento --- da grande imprensa para atiçar o fogo do ódio e destruir tudo: não só o PT, mas desmoralizar e escorraçar a esquerda em geral para as catacumbas sociais. Combustível reforçado ainda mais por outros pontos de incêndio, assim que vierem os aumentos da energia (combustíveis e eletricidade).

Nessa hipótese, a esquerda não-petista pode se preparar de duas formas: enfrentar as manifestações mais brutas do fascismo e da direita nas ruas, distinguindo-se do governismo, e de maneira organizada, com apoio de bases ampliadas das classes espoliadas. O segundo ponto é o mais decisivo, porém: o ataque tem de ser dirigido menos ao céu da política do que ao chão da economia/ecologia política. A crise hídrica será o estopim desse confronto. Como em Junho foi o transporte público.

2- 

Mas, sem precipitações: não há fascismo algum nas ruas. Paremos diante desta obviedade. Esses setores de extrema direita são a minoria da minoria da sociedade. Deram vexame ontem e serão logo esquecidos nos submundos da internet, donde tramarão pela milésima vez seu golpe militar imaginário.

Analistas de esquerda do mainstream estarão hoje desprezando tais fenômenos micrológicos residuais, decantados e refinados a partir de tendências sociais profundas, como sendo mera superfície social.

Ora, não foi exatamente pela intervenção militar ou o separatismo (apenas a minoria folclórica sem noção radicalizou desse jeito), mas pelo "fora PT" que eles saíram às ruas.  Nesse sentido são sim representativos de algo muito maior. Basta ver os cartazes. Ecoam uma enorme insatisfação com o PT, o enorme desgaste da política, a vontade de poder do homem ressentido e das elites da casa grande contra as pautas populares e da esquerda, e coisas desse tipo.

Em termos nacionais, tais microfascismos e reacionarismos foram representados por bolsonaro e os nanicos Fidelix e Everaldo. Mas é bom lembrar: votaram fervorosamente em Aéreo e cogitaram até mesmo em Marinar. Suas bandeiras principais ontem eram as da revista Veja, ecoando o ódio moralista histórico da UDN: "Dilma sabia de tudo", "fora petralhas", "fraudes nas urnas" e "impeachment". Reinaldo Azevedo, no blog da revista do chrorume semanal, defendeu o golpismo do impeachment e o fora pt, mas disse que eles foram distorcidos pela mídia . Mas de fato, no palanque o filho de Bolsonaro, Lobão, Coronel Telhada e Paulo Martins vociferaram suas sandices golpistas. Eduardo Bolsonaro se superou: “Ele [seu pai] teria fuzilado Dilma Rousseff se fosse candidato esse ano. Ele tem vontade de ser candidato mesmo que tenha de mudar de partido”. E emendou: “Dizia na minha campanha: voto no Marcola, mas não em Dilma. Pelo menos ele tem palavra”.   

Nesses termos, parecem todos eles no momento muito mais parte de um microfenômeno imaginário e ideológico do que prático e concreto. Isto é, são irracionais e inconsequentes do ponto de vista imediato.

Mas e a esquerda e a extrema esquerda? São outra minoria, embora organizada e politicamente orientada por uma estratégia mínima comum. Mas é, sim, outro fenômeno muito mais imaginário, teórico-ideológico do que prático, queiramos ou não, sem larga base social ampla. Em alguns setores, a "ideologia do movimento" confina com simples ilusões de grêmio estudantil.

Estes setores de ultradireita são a espuma de uma onda conservadora de classe média dentro de um mar conservador nacional, que eu diria de dimensões mundiais. Não se ganha nada em diagnosticar que são mera miragem, e que juntos os venceremos. Aliás, contra Alckimin e a crise hídrica em São Paulo, no mesmo dia, tivemos 150 pessoas. Está aí o resultado das eleições na Europa, e está aqui o nosso congresso e os governadores de centro-direita. Está aí, sintomaticamente, sob o ataque especulativo midiático e financeiro, a direitização esperada de Dilma logo na primeira semana após as eleições. Não há mar conservador? Falta dialética nessa miopia teórica: a capacidade de ver além do imediato, segundo a lógica do tempo, a mediação de opostos, e sobretudo a reversão do outro no mesmo, típica de nossa modernização conservadora.

Vi jovens imaturos. Politicamente desorganizados e inconsequentes nas ruas. Mas não vi só jovens, não. Vi setores simpáticos à extrema direita, de meia idade e saudosos do regime de 64. Mas vi também setores da classe média antipetistas ferrenhos, esses que se declararam de maneira agressiva e virulenta nas redes quando Dilma venceu. É um rastilho de pólvora, ou a gasolina incendiada dentro do tonel de óleo cru. Pode incendiar os Jardins e os bairros de classe média como em Junho. Basta o comando dos meios midiáticos golpistas, como foi com Collor. São assim um germe de outra coisa, que não será evidentemente a radicalização à extrema-direita, ao golpismo de 64. O capital não precisa disso por enquanto.

Mas vi aí o ensaio para uma possível campanha pelo impeachment, se provas forem urdidas ou forjadas, em que estará posto a completa hegemonia da direita no país. No entanto, segundo corre nos bastidores, essa campanha levaria vários políticos e partidos, inclusive da oposição, ao mar de lama conjunta da direita e do estado burguês, colocando a legitimidade do governo da República em xeque.

E com todas as suas consequências - desastrosas em termos de reconstrução da política a partir de uma nação alienada, em frangalhos, isto é, alijada de bases teóricas críticas e da práxis política enraizada. Está aí a Ucrânia como exemplo: uma massa nacionalista, liberal-individualista unida a uma extrema direita neonazista clamando por se integrar no matadouro da União Europeia com autonomia nacional. Está aí a nova direita populista europeia (ver sobre isso o dossiê esquerda.net: http://www.esquerda.net/topics/dossier-221-nova-direita-populista-europeia). Esta aí a Venezuela dividida entre elites neoliberais, a massa popular e um governo social-populista muito frágil, está aí a Grécia patinando entre esquerda e direita neonacionalista, ou o republicanismo americano, e muitos outros países recentes, como exemplos. Do quê?

Exemplos de frutos maduros de um homo economicus liberal sem raízes ou que perdeu suas raízes na globalização, que se inverte à direita e espuma na costa como fenômenos coligados a tendências de protofascismo. O protofascismo é a tendência maior neste mar. E tendência a não se desenvolver por completo. Tendência à fragmentação de manifestações parecidas com as fascistas. O fascismo pode não desabrochar nunca mais. E de fato creio que será o caso. Basta legitimar um Estado autoritário, penal-carcerário, que impeça toda transformação social, principalmente nos tempos de crise e urgência que se seguirão. 

É isso que os analistas ainda não perceberam em casos como estes: não o liberalismo se subordinando a um conservadorismo de direita, que seria externo a ele, mas o liberalismo se transformando no que ele sempre traz em germe: o conservadorismo. Em suma, o individualismo esclarecido do homem-tempo-trabalho-dinheiro liberal revertendo-se em seu contrário: obscurantismo, elitismo, machismo, racismo, autoritarismo, fascismo.

29 outubro, 2014

PROJETO: MINIMA MORALIA NACIONAL - Materiais para uma teoria do protofascismo brasileiro

O tempo sombrio pós-eleição gera uma onda, não, um mar conservador. Tempo para realizar uma espécie de MINIMA MORALIA NACIONAL. Estilo do original: micrologias da vida mutilada em fase de individualismo neoliberal radical e estupidificação em série. 


0- Vamos contabilizando as vagas sucessivas de racismo e violência contida. É por um fio. Esse país infelizmente vai se revelando o que sempre a teoria crítica apontou que seria o caso no regime da mercantilização integral: é proto-fascista.
O Clássico:

I- "A lucidez e a estupidez da pequena burguesia.
No geral imperando agora um clima de histeria juvenil, preconceito e ignorância social e política, extremando em irracionalismo que não sabe pensar nos números e nas forças reais em jogo. Querem gozar a vida mas sabem inconscientemente que fracassarão diante do mercado de trabalho acirradíssimo da concorrência suicida global. A piada de emigrar para Miami ou Orlando, a terra do Pateta, é o seu imã, aquilo que os atrai e os repele: sabem que lá a sua chance de "vencer" seria mais reduzida e que perderiam os privilégios que aqui possuem como verdadeiros aristocratas. Daí é fácil fazer a operação mental: pôr a culpa no "governo" -- como se o de Aécio não tivesse prometido cortes para salvar apenas os lucros da burguesia e sucatear mais uma vez os serviços públicos --, o primeiro agente que eles percebem como alheio, estranho, demoníaco, como representante do capital global. Erram o alvo ao personalizar o capital num governo, mas falta-lhes totalmente a mira do conceito fornecido pela velha crítica da economia política".

II- 
Um líder da direita "informal" conclamando ao enfrentamento da nação contra a raça petista e por suposto: esquerdista socializante, improdutiva, o homo sacer exterminável. Fala limpa, fria, ódio calando fundo, no olhar assassino e nos dentes à mostra.
Enquanto isso "Vejo" isso diariamente nos ambientes paulistanos: o mainstream vai absorvendo desses grupos todo o vocabulário macarthista da guerra fria e neocon republicano estadunidense. Mistura de pensamento conservador, ultra-neoliberal, moralismo puritano e punitivo e demência proto fascista.




III- Sobre a crise hídrica invisível e por fim "inexistente".
Escrevam aí: isso não vai dar em nada. E mais isto: não vai ter crise hídrica em São Paulo. Entendam bem:pelo menos não para a classe dos abastados, que tem poços, compram caminhões pipa e aguentarão o tranco do caos inflacionário e do desemprego por um bom tempo. Com a ajuda da mídia isso não vai incomodá-los em nada. A não ser que bater na economia deles, o que não é totalmente certo ainda. Por outro lado, a crise será adiada até o ano que vem, pois aí virão as chuvas de novembro e dezembro. Lá pro meio do ano que vem os pobres aguentarão um racionamento espartano, com sentido de solidariedade e até de missão -- tudo com resignação ou muita bomba de gás lacrimogêneo.
A mídia irá fazer o trabalho perfeito dessa vez. E o PSDB ainda vai sair com a aura de ótimo gestor de uma crise da água em São Paulo. Alckimin será o campeão e pegará com Serra o trampolim para a presidência.
Parece brincadeira. Mas é o que eu sinto: a classe média encontrou finalmente o seu partido e a sua forma perfeita de governar: blindagem midiática, moralismo seletivo, capa falsa de tecnicismos e austeridade com os gastos, numa suposta gestão eficiente, lucrativa e parceira da iniciativa privada, enquanto na essência, o saque das contas públicas e dos recursos comuns. Em caso de merda coletiva irrecusável, resta delegar cinicamente a culpa para a instância federal ou para um fenômeno natural qualquer.

IV- Um relato de estupro por Aecistas.
 Não ia me pronunciar por aqui, pois achava que era muita exposição, e de fato é. Mas o caso se agravou, e deixou de ser "meramente pessoal" para ser uma causa coletiva, no qual envolve uma luta contra o machismo, racismo e xenofobia. Além de envolver divergências políticas.
O ocorrido foi a pouco tempo, pouquíssimo mesmo. Estava na Bambina, quando me deparei com uma mulher discutindo as eleições com três caras pró Aécio. Esses caras, alias escrapulos , vomitaram um discurso machista em cima da mesma, no qual eu tentei intervir.
Por acaso, outras pessoas tentaram intervir também, e uma delas era um homem com barba, no qual foi chamado de merda por "ser" Fidel Castro, me irritei mais e sim, fui agressiva. Mandei os três opressores tomarem no cu, em alto e bom som.
Já saturada de discutir e decidi ir embora do local. Estava indo pra casa do meu companheiro, mas fui abordada por um desses três caras perto de um dos pontos de ônibus da São Clemente, e fui agredida verbalmente com um imenso discurso asno de patriarcado.
Quando tentei me livrar de todo aquele vômito verbal e continuar seguindo minha rota, o mesmo não deixou eu prosseguir, me segurando a força. Os outros dois caras chegaram e se juntaram, para me violentar.
Fui arrastada prum beco, no qual me empurraram contra a parede e dissertaram frases sem sentido como "voces mulheres são geneticamente incapazes de entender politica e por isso o Brasil está uma merda. Porque a presidente é mulher".
Apesar das agressões físicas, continuei rebatendo e me impondo, até que pegaram minha bolsa e pegaram todo o meu dinheiro que era pouco, picotaram e tentaram enfiar a guela a baixo, dissertando "ué voce nao é anarquista ?".
Após isso me violentaram de vez, se é que me entendem, chegaram a picotar minha blusa. E disseram duas coisas que eu nunca esquecerei, a primeira foi: "nós eleitores do Aécico, só votamos nele pelos nossos interesses, sim é egoísmo", e a segunda foi: "estamos fazendo isso com você, pois é nosso discurso, alias politica se ganha na força e não com intelecto, e mulher só serve pra ficar na cama "
Ou seja, foda-se a população e voltemos aos tempos arcaicos do machismo MOR hahahahha, sim pra mim chega a ser comico, lembrar dessas frases, mas apesar de cômico, é recordado com MUITA dor !
Por sorte, quando estava no IML (Instituto Médico Legal), meu companheiro enquanto eu estava fazendo os exames, abordou duas mulheres que estavam na DEAM (Delegacia da Mulher) no mesmo tempo que nós, e percebeu que a descrição dos caras era a mesma.
Uma dessas mulheres Andréa Fidele, teve seu colo e uma parte de sua coxa chutada, por um dos caras, só por estar com um adesivo da Dilma, por ser negra e nordestina. Isso por volta de umas 1 a.m em Santa Teresa, no qual ele foi expulso do local. Por volta das 3:30 a.m fui violentada e estuprada por esses mesmo caras em Botafogo.


V- Roda viva pós-eleição: augusto nunes - o oligofrênico editor de veja - comandando o debate sobre as eleições. Em pauta as razões do fracasso de Aético e do Psd B e vitória de...
Pois bem, segundo a turminha de amigos de veja: o quê, cuma?, que fracasso?
Enquanto isso, o vocabulário inteiro da veja-globo vai sendo desfiado: mensalão, petrolão, fracasso de dilmão-sargentão à vista, miriam leitão é que entende de economia etc.
Na cúpula dos ideólogos, a mesma denegação e recusa fetichista da realidade da caixa baixa nas ruas. Na visão deles é o oposto: uma elite de gente entendida nos assuntos dos mercados assiste às reviravoltas cegas da democracia popular que elege uma máfia corrupta, estúpida e "inepta" (segundo Constantino). Os experts x os ladrões.
Vasilenskas tem razão: os figuras estão forçando a venezuelização do Brasil.

VI- A política do pão - e do circo involuntário.
"O Pensamento que se autodemole e ri de si próprio. Aécio não só prometia ampliar como reajustar os valores da assistência social. Afinal 3 ou 4% do PIB é um valor irrisório dentro do todo, barato demais e aliás feito na medida para quem prometeu cortar gastos estatais até o osso e fazer restar apenas o "mérito", enquanto, na surdina, finalmente, botaria de lado a política social distributiva dos bancos públicos. E enfim, todos sabem: o programa é um sucesso até mesmo no terreno econômico, já que multiplica cada 1 real por 1,70.
Não assim para o pensamento conservador que vê nisso tudo apenas o cabresto, a marionete do poder: será que essa turma já parou para pensar no ridículo: boa parte de quem votou em Aécio votou porque ele prometia justamente ampliar o programa e reajustar os valores? Quem é a marionete mesmo? O pão foi dado, o circo fica por conta dessa gente superinformada por memes e reportagens da revista semanal estrondosa"

VII-Largest Nazi March in Years in Cologne, Germany, Using ISIL Terror to Recruit; Cops Let them Attack Antifa
Over 4,000 nazis organized a march to promote their ideology in Cologne, using ISIL terror as motivation to gather more supporters for “white christian Europe”. It was the biggest nazi rally in years in Germany.
They attacked people and anti-fascists counter-protesting to warn against them using ISIL extremism so they can inflict their terror on non-whites in Europe.

VII- Mensagens de ódio cresceram 342% no segundo turno, turbinadas por grupos de extrema direita
A teoria que devemos consolidar: o tsunami "protofascista" brasileiro tem causas estruturais. Depois de duas semanas os efeitos passam e a onda baixa, mas não desaparece a estrutura.Na comparação com 26 de outubro de 2013, aumento nas denúncias chegou a 662,5% (http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/politica/eleicoes-2014/noticia/2014/10/mensagens-de-odio-cresceram-342-no-segundo-turno-turbinadas-por-grupos-de-extrema-direita-4629883.html) 

IX- Unidos para um colossal desastre -- Vide:.www.saopauloindependente.org --, sabendo muito bem do que se trata, sem medir nem forças nem consequências de seus atos, exatamente tal como Adorno percebeu a ascensão do poder nacional socialista alemão. As pessoas negligenciaram a ascensão de Hitler até que o ovo da serpente foi chocado e deu a luz ao monstrengo histórico. Quem não me diz que isso não parece ainda germe de uma espécie de "fascismo à paulista"?
Eis a morfologia de de uma simples crise de sucessão política. Imagine tudo isso precipitado numa crise mundial. A emancipação será o fruto da resistência de milhares de pesssoas lutando em milhares de frentes: crítica, prática, combate ao fascismo.
65 mil inscritos para o regionalismo separatista imaginário, que vai dar em nada, como sabemos. Unidos ironicamente para lamber as bolas do governador que vai mandar os cachorros pra cima se estourarem alguma vidraça. 


X-

UOL põe no ar chamada com Aécio eleito: virada inédita” http://www.revistaforum.com.br/rodrigovianna/radar-da-midia/uol-poe-ar-chamada-com-aecio-eleito-virada-inedita/

Sede de virada, sede de vingança. Vingança contra o outro: o modo como o ethos da autoconservação na concorrência social global é internalizado e projetado nos vencedores de um pleito, rebaixando-os a párias sociais, os párias que supostamente os impede de continuar triunfando em sua perpétua esteira de rolagem no laboratório empresarial global qual ratos, só que párias de classe. Virada inédita seria apenas a emancipação dessa esteira. (Para as Minima Moralia Nacional).

XI- 
Para quem não viu esta aqui. (http://www.viomundo.com.br/politica/leitura-obrigatoria-para-os-que-nao-se-conformam-com-vitoria-de-dilma-nordeste.html)

O gigante acordou sim. É o gigante que resta da ditadura: ele está nas casas, nos carros, nas redes, e principalmente --- trabalhando para fazer mercadorias abstratas nos escritórios e fábricas.


XII - Terrorismo antes e depois da eleição: reação conservadora. 
A mídia monopolista vai cercando o terreno. Tal é a forma clássica de travar aquilo que fazia tempo guardávamos no baú de nossas lembranças teóricas, e que certamente deve ser usado com cuidado: a luta de classes.
Não temos de ter medo da divisão de classes. Mas é preciso saber fazer bem o corte para não ferir as alianças necessárias com setores progressistas. Vale constatar que os de cima, como disse antes, que já estão preparados e armados: com esse congresso a direita praticamente impedirá todo avanço. A burguesia e seus ideólogos já perceberam isso, só a classe média ainda não percebeu: venceu o PT e a esquerda com o congresso e esses governadores conservadores (6 por meia dúzia é o nome de uma manchete do estadão que escarnece do presente como se tivesse esquecido de que ama que nada mude mesmo, hehe). E claro, podemos em breve esperar uma forte campanha de impeachement.
Enquanto isso, a esquerda sai, medidas bem as palavras, em frangalhos. Só poderia trazer parte da classe média para si se conseguisse romper a ideologia neoliberal e meritocrática - missão quase impossível enquanto a crise estrutural no centro não der mais uma vez os sinais de que veio para ficar. Enquanto isso, devemos apontar as consequências de seu elitismo nos preconceitos que vem emitindo apontando a meritocracia como doutrina suicida de quem se deixa embutir na salsicharia da concorrência global. Mas o pior no Brasil é que nem mérito é, é privilégio, herança, esbulho social renovado.


XIV - Grande texto: Obrigado, direita!
http://jornalggn.com.br/noticia/obrigado-direita-por-rafael-castilho 

XV- A direita estúpida mas metida, sem remoques:http://www.viomundo.com.br/politica/rodrigo-constantino-propoe-divisao-brasil-em-dois.html

XVI- Coronel Telhada e o Separatismo paulista http://noticias.r7.com/eleicoes-2014/apos-vitoria-de-dilma-coronel-paulo-telhada-do-psdb-pede-independencia-do-sul-e-do-sudeste-29102014 

XVII-Câmara derruba o decreto dos conselhos populares -- como era previsível.
Impossível quebrar o poder oligárquico no Brasil.
Congresso velho, conservador? Imagine com o novo, que é pior ainda. Uma boa notícia pelo menos: a Onda conservadora natural vai destruindo os sonhos até dos reacionários que imaginam que precisaria surgir uma intervenção militar para eliminar uma medida política democrática dessas.

XVIII- China leva o seu chão de fábrica para a África: 

O horror do produtivismo chegando na África. É isso que a classe média moralista adora: produzir, trabalhar, acabar com a própria vida e a do outro no trabalho alienado.

XIX -
 


XX- Aécio vence... em Miami ou na Suíça. De fato, ele é a cara de Miami ou Suíça, com seus paraísos fiscais e seus bancos-sombra, nunca a do Brasil real, de carne e osso. Uma figura de puro marketing.
A notícia é um resumo de um Brasil polarizado (nome que a mídia elegeu para nomear conceitualmente a luta de classes) entre a elite (e grande parte de uma classe média alienada e hegemonizada pela ideologia neoliberal, que sonha em pertencer à elite) e o povo de humilhados e ofendidos.

XXI - 
A falta da política no debate moral do sbt
Debate tenebroso e de baixíssimo nível (já ia dizer que digno da casa do Silvio Santos, rs.)
A estratégia de aecio é bater sempre no tema da corrupção e da ineficiência para atingir Dilma diretamente. Dilma rebate e desce o nível para o aeroporto do tio, o nepotismo da irmã e dos parentes, das rádios, do teste do bafômetro (q tema tosco!).
Aecio se sai muito bem dizendo que o que interessa são as virtudes públicas. A la Mandeville: vícios privados, virtudes públicas.
Ao final, depois de muita mentira a respeito do governo mineiro, que Dilma pouco conseguiu rebater, ele se saiu bem com as promessas de "profissionalizar" o Estado e a gestão, com honestidade, lembrando ainda que os tribunais não julgaram o PSDB porque "não tiveram provas" suficientes (nessa hora, dá vontade de correr, eu sei) . É isso que o povo, principalmente a classe média, criada dentro do recente imaginário meritocrático e neoliberal, quer ouvir.
Um paradoxo então se forma:
Quem mais deveria enfocar a vida pública, cai no privado, e quem defende o moralismo com vícios privados acaba como campeão da moral e da boa política.
Em suma, erro de Dilma e do PT: ao invés de focar a política e a economia, descer ao nível do privado, no limite da insignificância. Nenhum questionamento substancial a respeito de privatizações ou política externa, reforma agrária ou crescimento econômico de seu oponente.
Esperteza de Aécio e PSDB: enfocar o público e o político, mesmo que suas virtudes públicas, morais e políticas sejam uma lástima.
Com isso, percebemos em que furada estamos: um privatista ao velho modo da casa grande se torna a cara do povo e promete um governo da integração nacional. E o partido de representação da massa trabalhadora regride e praticamente foge dos grandes temas da crítica social e histórica do Brasil, dando o sinal de esgotamento de seu projeto de poder alienado das bases populares efetivas.

XXII - Práxis no tempo da urgência
Previsão antes da eleição. 
Já é possível imaginar o cenário nacional pós-eleição. Posso estar enganado, mas a ingenuidade é imaginar que tudo ficará dentro da normalidade.

Se o playboy oligarca de Minas vencer podemos antever uma onda triunfal da direita conservadora. Um novo desrecalque de ódio e preconceito de classe, que pode variar no tempo e no espaço: a tomada imediata das ruas por clamores vingativos, seguida nos próximos meses por uma grande campanha de impeachment, reverberando ideologicamente os símbolos nacionalistas da massa coxinha de junho, enquanto a esquerda e os movimentos sociais terão sorte se não forem acusados, perseguidos e criminalizados em bloco junto com a "esquerdalha" corrupta. Um passo perfeito para o terrorismo midiático dar o troco e novamente legitimar, como em junho, a polícia escorraçar tais movimentos das ruas, principalmente nos próximos meses de caos hídrico em São Paulo.
Se o tucanato perder é difícil dizer o que poderá acontecer. Merval Pereira já falou duas vezes em crise institucional e impeachment. Sem dúvida, uma outra onda conservadora irá se formar, mas agora limitada e dirigida contra os petistas, resultando no pedido de impeachment por parte das forças concentradas da oposição. Diferentemente de companheiros petistas não ponho a mão no fogo por eles e seus líderes, além do que provas ou teorias sobre provas especulativas também se forjam. Se nada for provado, porém, a revista e o canal de tv associado sairão queimadíssimos mais uma vez, e será a vez de o novo governo propor uma nova lei da imprensa, uma nova política de comunicações via democratização de verbas e canais alternativos. Será para eles uma espécie de morte por sufocamento, pois dependem muito das verbas bilionárias da propaganda oficial.
Em ambos os quadros, a esquerda não governista e antipetista (por motivos inversos aos do social-darwinismo da oposição) terá de se aliar para combater a ideologia conservadora e neoliberal que se difunde rapidamente pela sociedade, na esteira da globalização e de sua crise fundamental. Mas, se ela recair no erro de não explicitar a estrutura econômica autodestrutiva do capital subjacente às grandes questões sociais e ambientais, mais uma vez ela irá se perder na problemática moral ou comportamental, em que a direita se arroga o pedestal da santidade, desfechando o golpe no próprio queixo, soterrando a luta de classes que se esboça na presente divisão do corpo social.
A esquerda radical, anticapitalista, teria de reencontrar suas bases de massa na periferia, entre trabalhadores, estudantes, intelectuais, mulheres, negros, indígenas, pobres e excluídos em geral. Repetir o gesto de Marx: pôr um espelho diante das elites irresponsáveis, donas dos meios de produção e do consenso midiático, incluindo aí o Staff petista, refletindo não o céu da política, mas o chão da crise econômico-social e ambiental, que elas, as elites, não poderão se esquivar. O neoliberalismo triunfante precipitará a barbárie que havia sido acolchoada pelo modelo intervencionista. Gostaria muito de crer que este último, caso vencedor, só poderá vencer um congresso reacionário como o de 64 se topar realizar o aprofundamento de uma democracia popular capilarizada em mídias alternativas e no confronto com os monopólios e os latifúndios midiáticos, além dos rurais e urbanos. Uma coisa é certa: a normalidade está suspensa por tempo indeterminado. Tempo de práxis, urgente.





19 outubro, 2014

DISTOPIA HÍDRICA PAULISTA

Crise hídrica em São Paulo: em tempos de colapso generalizado do desenvolvimento, a utopia cede lugar à distopia

Pois, nesse exato momento, não estaríamos sujeitos a uma política do silêncio? O governo estadual não vem calando abertamente a Sabesp e a mídia? Muito provavelmente. Tudo para se reeleger em primeiro turno e apoiar o presidente para completar as obras do Tucanistão. 

O silêncio, no entanto, é bem mais radical do que isso. Porque podemos imaginar o que está por trás desse cenário preocupante: uma espécie de apocalipse.

Nessa hipótese distópica, a estratégia do silêncio serviria a um propósito claro: evitar o pânico, prevenir uma rebelião e mesmo uma guerra civil, que já começam a se esboçar em alguns lugares.


(Caminhão pipa escoltado pela polícia em Itú-SP).

Imaginemos a falta de água por meses seguidos, ou até anos, na maior região metropolitana e produtiva do país. Escolas, fábricas, empresas paralisadas. Manifestações generalizadas e polícia prendendo e descendo o cacete, com afinco, como de costume. Saques em supermercados. Estado de exceção e toque de recolher nas ruas. Massacres de pobres e excluídos. Presídios lotados -- e em rebelião. Invasões, roubos de água, enquanto as classes dominantes terminam seu processo de bunkerização, podendo comprar e armazenar água para si. Pobres vivendo em áreas de encostas de morro sem quase nenhuma água, ou com água contaminada. Surtos de doenças contagiosas por falta de higiene básica. Hospitais lotados. Poços artesianos insuficientes, secando rápido, assaltados ou em disputa selvagem. Milícias privadas escoltando carros pipa, o crime organizado respondendo à polícia. Ondas maciças de desemprego e de revolta, sem movimentos sociais organizados capazes de ordená-las, o que promete ser a reedição do individualismo de massas nas ruas de Junho. E pior, num país que elegeu um congresso conservador e reacionário. Apoiado pela grande mídia, esse governo esconde a estratégia tucana até o final, buscando deslegitimar toda tentativa de rebelião popular de massas não conformistas e não alinhadas (digamos: proto-socialistas). Cada um por si, todos contra todos. Ondas de refugiados e migrações  para fora ou para outras partes da cidade. Preço da água potável e dos alimentos em rápida elevação. A falência de empresas conduz o capital a saltar para mercados financeiros ou produtivos para fora da região metropolitana, inclusive para fora do estado. Miséria e arrocho salarial pelas mãos de um candidato neoliberal que vai governar para a elite privilegiada, supostamente meritocrática, e que ameaça mais privatização. E tudo isso num país que cedo ou tarde vai entrar em crise nos  próximos anos, devido aos reajustes de preço de eletricidade e combustíveis. 

Para saldar os gastos, mais medidas de emergência, mais cortes em investimentos estatais, mais privatizações, mais repressão contra essa guerra civil canibal-nuclear-zumbi que se avizinha em nossa imaginação distópica.

15 outubro, 2014

Teoria do golpe a conta-gotas: sobre a crise da água em São Paulo

Os golpes modernos são feitos a conta-gotas. As pessoas aguardam, passivamente, colocando a culpa nas forças divinas. 

"Se seca continuar, a água termina em novembro, admite o presidente da SABESP. "

Só agora o Estadão resolve avisar seus leitores da seca e do racionamento?! Cinismo esclarecido é assim que funciona. 

O fato é que o governador provavelmente ordenou que a Sabesp fechasse o bico sobre o tema espinhoso. Na submanchete do jornal, a verdade sórdida, que o jornal evitou o quanto pôde: "Presidente da Sabesp diz que Justiça Eleitoral barrou propagandas e que não podia falar a palavra 'seca' e sobre gravidade da situação" (O Estado de São Paulo,15.10.14)

E assim saem todos impunes. Esperam a impunidade. O governador dá o golpe, os jornais repassam o golpe aos eleitores. Exatamente há duas semanas depois do primeiro turno. Curioso: ninguém diz que o PSDB aparelhou a SABESP.

No editorial da Folha de São Paulo (http://naofo.de/1lph): ricos entre si, conflitando. A mídia cobra medidas do governador e da SABESP, sem maquiar o cenário catastrófico que se avizinha. Incrível. A desfaçatez e a estupidez atingem as raias do absurdo. Usam até mesmo os argumentos da esquerda nesse editorial, os argumentos que evitaram o tempo todo: "a incúria das gestões tucanas que comandam o estado desde 1995. E os seus pressupostos, além da seca atípica: os relatórios técnicos que avisaram sistematicamente sobre a insegurança hídrica da região metropolitana, a irresponsabilidade do governador que privatizou a empresa pública ou a fez funcionar segundo a lógica do lucro e da distribuição de dividendos para acionistas. 

O golpe eleitoral, no entanto, está consumado. Com a ajuda do golpe midiático de sempre.

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Parêntese teórico: "Pois bem, de 2005 a 2013, os lucros da Sabesp, em valores corrigidos, atingem R$ 13,7 bilhões.Seu patrimônio líquido, R$ 12,9 bilhões. O que significa rentabilidade média neste período  (lucro frente ao patrimônio líquido) foi  de 11,86%. Os dados são de balanços da própria empresa.
A Sabesp, portanto, é altamente lucrativa e poderia reaplicar os ganhos na ampliação dos serviços à população.
RENTABILIDADE DA SABESP
Os lucros de 2005 a 2013 dariam para construir seis vezes o Sistema Produtor de Água São Lourenço, cujas obras tiveram início somente em 10 de abril deste ano."

http://www.viomundo.com.br/denuncias/governo-alckmin-embolsa-50-dos-lucros-da-sabesp-e-ainda-reduz-investimentos-em-agua.html

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Está para ser escrita, então, uma nova teoria do golpe a conta-gotas. 

Penúltimo capítulo: SABESP mete o loco no Cantareira. 
"SABESP desobedece Justiça e retira do Cantareira água sem aval, aponta vistoria" (Estadão, 15.10.14). 

Último capítulo, a provável gota d´água: "sem aval", a população organizada invade o palácio do governo e a câmara e pede o impeachment desse governador privateiro irresponsável. 



Restam-nos 15 ou 20 dias de reservas, senão menos. 

Gota derradeira: "Vereadores e diretor da SABESP rezam por chuva em Franca" (OESP, idem).

Vão rezar também para a massa crítica se calar engolindo seu próprio sangue, suor e lágrimas? 

A ver. 

Bob Klausen