As reações ao ENEM 2015: revelações de um certo caráter autoritário brasileiro
Como não ficar chocado com as reações da direita sobre o ENEM-2015? Com InFeliciano e Bolsomico como capitães gerais da reação.
Isso vai desde a gente blasé gargalhando dos atrasados, comemorando com cerveja em punho na frente das escolas, até aqueles que não toleram nem mesmo pensar nas violências e desigualdades do mundo contemporâneo, ao contrário, defendendo-as junto ao sistema que as enquadra. Fontes de esquerda? Ora, primeiro exigiu-se interpretação de texto, ou seja, objetividade, imparcialidade e respeito pela autonomia do pensamento alheio. Em segundo lugar, o que é Tomás de Aquino, Hume, Nietzsche ou Weber na mesma prova que teve Beauvoir, Harvey, M. Santos, Sérgio Buarque e Zizek?
(E não, não há nada de "marxismo cultural" nisso, já que ataca problemas concretos, que ajudam a fundar relações sociais no país - ao contrário de certo lukácsianismo tosco que também li na internet, que vê na cultura mera superestrutura de fenômenos).
De repente se tornou banal ostentar ódio, burrice, machismo enrustido ou aberto e muito, muito cinismo. Mas isso tem definitivamente um caráter de classe e de nacionalidade.
É um surto geral de desrecalque de ódio, agressão e de pulsões arcaicas -- que não vem da elite, certamente, mas de uma certa classe média idiotizada, insegura, mal colocada no mercado, em crise, super tradicional e católica e claramente ressentida com o discurso da igualdade para todos, independente da origem social.
Por fim, parece haver um corte nacional: um fundo brasileiro, de origem colonial-escravista, e aqui para ser breve: o de uma cultura da vingança, a de um povo sádico, que adora brutalizar o outro e não suporta olhar a realidade de um ponto de vista estranho a si mesmo. Duvido que esse caráter autoritário aconteceria da mesma forma em outros países.
Mas nem tudo está perdido. Detalhe dialético da matéria: a grande maioria, principalmente as mulheres, ridicularizou os machistinhas de plantão, incluindo os capitães do reacionarismo nacional. Porque quando a estupidez se torna escandalosa ela também encontra seus limites.
Bob Klausen
Como não ficar chocado com as reações da direita sobre o ENEM-2015? Com InFeliciano e Bolsomico como capitães gerais da reação.
Isso vai desde a gente blasé gargalhando dos atrasados, comemorando com cerveja em punho na frente das escolas, até aqueles que não toleram nem mesmo pensar nas violências e desigualdades do mundo contemporâneo, ao contrário, defendendo-as junto ao sistema que as enquadra. Fontes de esquerda? Ora, primeiro exigiu-se interpretação de texto, ou seja, objetividade, imparcialidade e respeito pela autonomia do pensamento alheio. Em segundo lugar, o que é Tomás de Aquino, Hume, Nietzsche ou Weber na mesma prova que teve Beauvoir, Harvey, M. Santos, Sérgio Buarque e Zizek?
(E não, não há nada de "marxismo cultural" nisso, já que ataca problemas concretos, que ajudam a fundar relações sociais no país - ao contrário de certo lukácsianismo tosco que também li na internet, que vê na cultura mera superestrutura de fenômenos).
De repente se tornou banal ostentar ódio, burrice, machismo enrustido ou aberto e muito, muito cinismo. Mas isso tem definitivamente um caráter de classe e de nacionalidade.
É um surto geral de desrecalque de ódio, agressão e de pulsões arcaicas -- que não vem da elite, certamente, mas de uma certa classe média idiotizada, insegura, mal colocada no mercado, em crise, super tradicional e católica e claramente ressentida com o discurso da igualdade para todos, independente da origem social.
Por fim, parece haver um corte nacional: um fundo brasileiro, de origem colonial-escravista, e aqui para ser breve: o de uma cultura da vingança, a de um povo sádico, que adora brutalizar o outro e não suporta olhar a realidade de um ponto de vista estranho a si mesmo. Duvido que esse caráter autoritário aconteceria da mesma forma em outros países.
Mas nem tudo está perdido. Detalhe dialético da matéria: a grande maioria, principalmente as mulheres, ridicularizou os machistinhas de plantão, incluindo os capitães do reacionarismo nacional. Porque quando a estupidez se torna escandalosa ela também encontra seus limites.