23 abril, 2016

GOLPEACHMENT: A DESTRUIÇÃO DO OUTRO

GOLPEACHMENT: A DESTRUIÇÃO DO OUTRO

                                                                                                                                 por Bob Klausen 

Golpeachment concluído! Resumo da ópera: não foi exatamente por crimes de responsabilidade, pedaladas, crise econômica e política, corrupção, incompetência na gestão, ingovernabilidade. Isso tudo são detalhes de um todo.

Antes de mais nada, o golpe foi arquitetado por uma oposição conservadora que trava uma luta de morte contra as forças de esquerda brasileira há mais de um século.

Do antipetismo ao anticomunismo ferrenho das classes médias e da elite, passando pelos 10% do eleitorado abertamente protofascista que apoia Bolsonaro (ou melhor: Bozonagro) e Cunha, o denominador comum aqui é o desreconhecimento do outro, ou a vontade de eliminação de qualquer representação das classes populares da política. Um corte que é estrutural. Pouco importa se o PT cumpre ou não essa função de representação das camadas populares. E fez o que fez por vários motivos, nem todos por covardia ou falta de estratégia. Quem viu de perto a Câmara dos deputados em ação entendeu subitamente o que há muito se sabia: eis o Congresso do Boi, da Bala e da Bíblia, um antro de reaças e corruptos sem nenhuma condição de representar uma nação complexa, diversificada e contraditória.

Em suma, a luta é de morte: o trabalhador pobre no Brasil deve obedecer em silêncio e de preferência se tornar invisível. Deve ser expulso da política seja direta ou indiretamente, por meio de seus representantes, que só agem quando coagidos ou deslegitimados publicamente. Basta lembrar de Reinaldo de Azevedo em seus momentos de sinceridade.












A destruição simbólica é completada pela imaginária. A política, totalmente espetacularizada, deve ser prerrogativa absoluta das elites, das oligarquias modernas e/ou tradicionais. Basta ver o tratamento midiático dado ao plano avassalador que vem aí, a PONTE PARA O RETROCESSO, e mesmo à linda e recatada família Temer, para entender do que se trata: a destruição do outro (e do grande Outro incluso), a instituição de uma espécie de dominação sem contraste. Nas periferias, finalmente, o extermínio dos sem-valor, do homo sacer, se materializa como a realidade nua do estado de exceção.

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