23 abril, 2016

Depois do Impeachment - não será a festa da democracia.


Depois do Impeachment - não será a festa da democracia. 
                                                                                                                                 Bob Klausen

Amanhã, talvez, será o começo do reaparecimento da luta de classes no país. E de maneira contra-intuitiva, acirrada não pelo lulismo, mas pelo campo da direita hidrofóbica e golpista. Luta que será feita parcialmente pelos canais institucionais, outra parte nas ruas e espaços sociais em geral.

Teremos então o ressurgimento daquilo que a democracia burguesa e seus governos de coalizão sempre esconderam ou bloquearam: o antagonismo social, envolvendo os estratos de classe que se polarizaram em torno do reformismo fraco do PT ou das forças conservadoras e reacionárias. Dentre estes últimos, nas grandes cidades, as camadas médias ultra-individualistas e com interesses claramente elitistas do sujeito neoliberal. ("A classe média não quer direitos, ela quer privilégios, custe os direitos de quem custar." Milton Santos)

Não há o que temer, no entanto. Essa cisão será essencial para escancarar os interesses em jogo. Caso perca, a esquerda será sacudida pelo golpe, e terá de remobilizar a sociedade e reinventar saídas. Não será a ordem que veremos restituída, mas a abertura e o remexer das feridas do esbulho diário que sofremos. Se o governo ganhar, ele terá de se reinventar totalmente, ou convocar uma nova eleição, aumentando a tensão, a necessidade do esclarecimento dos projetos em luta, escancarando o antagonismo de classes. No final desse túnel: um novo golpe militar? Não eliminaria essa hipótese, pois a crise política tem por trás uma economia mundial em colapso e um tecido social totalmente esgarçado. Não há mais como fechar essa ferida depois da ascensão de uma certa classe trabalhadora, que conquistou direitos mínimos nos últimos anos. Eis a dialética histórica que a direita não conta, mas que é real. Essa dialética só será paralisada pela intervenção da força de um golpe militar? ou de um movimento de superação da política institucional por parte da esquerda: com mobilizações em massa, plebiscitos populares, greves gerais etc.?

Setores da direita já falam em sacrifícios e repressão aos movimentos sociais de base. De que não há reformas sem ruptura das legalidades instituídas (CLT, constituição de 88 etc.). Por outro lado, os setores populares ou simpáticos a eles perceberam que não haverá paz. Para reforçar esse argumento, uma impressão minha das redes. O projeto neoliberal da direita ficou claro já para certos estratos da classe média, e vai ficar claro até mesmo para os zumbis antidilma, que vivem sob a mais pura ideologia midiática, assim que os decretos-lei a la Macri começarem a quebrar o feitiço. Uma parte da classe média tenho certeza que é incurável e tirará a fantasia democrática fazendo aparecer os chifres do neofascismo. Outra parte entenderá que o mundo do capital do jeito que foi até aqui está chegando ao fim e que eles não têm como defender o capital. Nesse caso, é toda a superestrutura ideológica que virá de encontro com a base real reduzida desses estratos, expondo a céu aberto a espoliação e a dominação social que sofre a maioria.

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