10 outubro, 2014

Sobre a espetacularização da corrupção na sociedade do capital

Como sempre no mês de Setembro ou Outubro, de quatro em quatro anos, o golpe midiático esperado: 

Delação "premiada" sem provas (caso Petrobras) -- e mais, com alta suspeita de ser em boa parte forjada -- vira maior caso de corrupção às portas de uma nova eleição. Delação premiada com provas e documentos (Trensalão tucano), feita pelos próprios corruptores (Alstom) e realizada por polícia estrangeira, é engavetado e passa apenas como um caso bobo de Cartel (de 0,5 a 2 bilhões em superfaturamento de trens).

NOTA SOBRE A ESPETACULARIZAÇÃO DO TEMA DA CORRUPÇÃO na SOCIEDADE DO CAPITAL.

O tema da corrupção é a pauta moralista maior de toda eleição no Brasil desde o lacerdismo e o udenismo, que, por sua vez, praticavam-na sempre, como toda direita dona do poder. O PSDB é a continuação fiel do udenismo. Só que este partido de gestores do capital passa sem nenhum julgamento e é blindado pela mídia white power de classe.

Só o julgamento da privataria tucana dos anos 90 -- enquanto crimes hediondos de lesa-pátria no total de mais de 100 bilhões -- daria cana para os principais líderes do partido alcançando talvez sua extinção, revelando-o como quadrilha instituída para saquear os bens públicos do país e facilitar a acumulação do capital mundial em crise.

O eleitor médio -- principalmente o da classe média -- tem uma noção muito tosca do poder. Primeiro porque não entende nada de valores em jogo. Segundo, porque concentra tudo no Executivo Federal (imaginando um ditador onisciente supremo no poder). Terceiro, porque compra a ideologia da grande mídia de que só um partido faz corrupção. Quarto, porque imagina que quase todo o dinheiro público do país foi desviado. Quinto, porque põe todo o foco da crítica social apenas na esfera da política, como se esta fosse autônoma em relação à economia capitalista e responsável por todos os males sociais. E assim por diante.

Ora, a corrupção é estrutural e atinge todas as instâncias de poder no capitalismo. Seu número atinge por volta de R$ 60 a 80 bilhões do orçamento total brasileiro -- que é de mais de 2,5 trilhão! Muito pior que a corrupção, por exemplo, são os juros pagos da dívida pública (1 trilhão) ou os salários miseráveis pagos para os professores ou, por outra, os supersalários pagos para os juízes. O pior: a privatização selvagem de patrimônios como a Vale, as cias. de energia e as teles, que foram rifados a preço de banana, sem redução de tarifas ou serviços adequados etc. etc. Isso deteriora a vida social e mata muito mais gente do que corrupção.

As propinas e o favor imperam de alto a baixo, mas jamais estão sob controle ditatorial de um presidente ou de um único partido. Basta imaginar: são milhares de cargos burocráticos, todos envolvendo licitações. Pouco importa o partido, isso sempre vai acontecer enquanto o capitalismo for o sistema dos ganhos privados, a socialização antissocial. Lembrando que há corrupção em todos os países desenvolvidos (Alemanha, EUA etc.). Dito isto tudo, é óbvio que o dinheiro do orçamento trilionário Federal circula e irriga o corpo social subdesenvolvido -- e foi isso que melhorou a vida de grande parte das massas miseráveis e pobres nos últimos 10 anos.

Agora, você já viu alguma empresa corruptora ser julgada e sentenciada, proibida de participar de novas licitações? Você já viu a rede globo se referir aos 615 milhões que deve ao fisco? Ou sobre os bilhões devidos pelo Itaú? E assim por diante.

O Estado mínimo preconizado pelo PSDB -- via política de privatizações de bancos públicos (recém prometida por Armínio Fraga) -- será apenas menos dinheiro público circulando pelo tecido social miserável, o tecido morto do volume morto do país-funeral.

Cláudio R. Duarte

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