19 outubro, 2014

DISTOPIA HÍDRICA PAULISTA

Crise hídrica em São Paulo: em tempos de colapso generalizado do desenvolvimento, a utopia cede lugar à distopia

Pois, nesse exato momento, não estaríamos sujeitos a uma política do silêncio? O governo estadual não vem calando abertamente a Sabesp e a mídia? Muito provavelmente. Tudo para se reeleger em primeiro turno e apoiar o presidente para completar as obras do Tucanistão. 

O silêncio, no entanto, é bem mais radical do que isso. Porque podemos imaginar o que está por trás desse cenário preocupante: uma espécie de apocalipse.

Nessa hipótese distópica, a estratégia do silêncio serviria a um propósito claro: evitar o pânico, prevenir uma rebelião e mesmo uma guerra civil, que já começam a se esboçar em alguns lugares.


(Caminhão pipa escoltado pela polícia em Itú-SP).

Imaginemos a falta de água por meses seguidos, ou até anos, na maior região metropolitana e produtiva do país. Escolas, fábricas, empresas paralisadas. Manifestações generalizadas e polícia prendendo e descendo o cacete, com afinco, como de costume. Saques em supermercados. Estado de exceção e toque de recolher nas ruas. Massacres de pobres e excluídos. Presídios lotados -- e em rebelião. Invasões, roubos de água, enquanto as classes dominantes terminam seu processo de bunkerização, podendo comprar e armazenar água para si. Pobres vivendo em áreas de encostas de morro sem quase nenhuma água, ou com água contaminada. Surtos de doenças contagiosas por falta de higiene básica. Hospitais lotados. Poços artesianos insuficientes, secando rápido, assaltados ou em disputa selvagem. Milícias privadas escoltando carros pipa, o crime organizado respondendo à polícia. Ondas maciças de desemprego e de revolta, sem movimentos sociais organizados capazes de ordená-las, o que promete ser a reedição do individualismo de massas nas ruas de Junho. E pior, num país que elegeu um congresso conservador e reacionário. Apoiado pela grande mídia, esse governo esconde a estratégia tucana até o final, buscando deslegitimar toda tentativa de rebelião popular de massas não conformistas e não alinhadas (digamos: proto-socialistas). Cada um por si, todos contra todos. Ondas de refugiados e migrações  para fora ou para outras partes da cidade. Preço da água potável e dos alimentos em rápida elevação. A falência de empresas conduz o capital a saltar para mercados financeiros ou produtivos para fora da região metropolitana, inclusive para fora do estado. Miséria e arrocho salarial pelas mãos de um candidato neoliberal que vai governar para a elite privilegiada, supostamente meritocrática, e que ameaça mais privatização. E tudo isso num país que cedo ou tarde vai entrar em crise nos  próximos anos, devido aos reajustes de preço de eletricidade e combustíveis. 

Para saldar os gastos, mais medidas de emergência, mais cortes em investimentos estatais, mais privatizações, mais repressão contra essa guerra civil canibal-nuclear-zumbi que se avizinha em nossa imaginação distópica.

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