30 janeiro, 2006

Sobre "O BANQUEIRO ANARQUISTA" de Fernando Pessoa

Inteligência e dissimulação
O imbróglio do mau infinito d´ "O Banqueiro Anarquista"


Cláudio R. Duarte

"O intelecto, como um meio para a conservação do indivíduo, desdobra suas forças principais no disfarce" (Nietzsche, "Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral", 1873).

A escrita de Fernando Pessoa é bastante ambivalente e paradoxal. Foi um dos artistas que sentiu, no início do século 20, a importância de libertação de máscaras do sujeito moderno. Mas essa libertação, para ele, é igual à multiplicação das máscaras. A desidentificação vem da multiplicação de identidades. Pode-se ver em suas personas poéticas, em seus "heterônimos", toda uma tentativa de cindir a fortaleza do Ego, uma poesia que procura fazer aflorar singularmente o inconsciente social da modernidade. Publicado em 1922, "O Banqueiro Anarquista", uma espécie de conte philosophique, ou "conto de raciocínio" como denominava o autor, obra ainda hoje muito pouco lida e pouco analisada, sintetiza alguns destes aspectos. Trata-se dum diálogo botequinesco entre um personagem anônimo e um ex-operário, também anônimo, que se tornou banqueiro, apresentado desde o início como "um grande comerciante e açambarcador notável". No diálogo, o banqueiro narra seu processo de formação, procurando demonstrar logicamente porque é realmente "anarquista" na teoria e na prática. Trata-se, assim, de um conto sobre razões da ação prático-moral, em que desfilam inteligência e dissimulação, lógica e disfarce.
* *
Para a consciência esclarecida do Banqueiro, tal como para os filósofos e economistas do século das Luzes, a dominação social é assumida como mera fiction sociale, estranha à Natureza. Para ele, dinheiro, Estado, religião, família etc. são nada mais que normas arbitrárias que mascaram e dominam a verdadeira vida natural. Na vida natural, os homens tornam-se iguais e livres de todas as tiranias sociais. Defendendo esse princípio de modo puro e intransigente, ele pode recusar tudo aquilo que não lhe seja compatível. Algumas falas do banqueiro parecem contraposições diretas ao Manifesto Comunista de Marx e Engels (a recusa da "ditadura do proletariado" como apenas mais um "despotismo militar" que só pode gerar uma "sociedade guerreira do tipo ditatorial"); e é com rigor lógico que vários motivos anarco-comunistas vão sendo conseqüentemente apresentados – mas tudo construído sistematicamente para ser destruído no fluxo discursivo. Com efeito, a verve anárquica do banqueiro é, através de uma coerência lógica sistemática, algo totalmente iconoclasta, até o ponto de conduzi-lo ao completo isolamento, à maneira do anarquismo individualista de "O único e sua propriedade" de Max Stirner. É verdade, diz ele, que somente uma revolução social pode superar efetivamente a opressão, mas, na prática concreta, até mesmo os pequenos grupos anarquistas, sem muita influência, produzem novas formas de tirania, acrescentando-as às já existentes:
"Uns mandavam em outros e levavam-nos para onde queriam; uns impunham-se a outros e obrigavam-nos a ser o que eles queriam; uns arrastavam outros por manhas e por artes para onde eles queriam. Não digo que fizessem isto em coisas graves; mesmo, não havia coisas graves ali em que o fizessem. Mas o fato é que isto acontecia sempre e todos os dias, e dava-se não só em assuntos relacionados com a propaganda, como fora deles, em assuntos vulgares da vida. Uns iam insensivelmente para chefes, outros insensivelmente para subordinados".
Assim sendo, apenas a liberdade individual, na sua total pureza, pode dar início à libertação da tirania social. Só isso torna-se realmente, segundo ele, uma verdade prática, coerente com a teoria anarquista da liberdade, não uma verdade restrita ao nível teórico-discursivo. Como então agir efetivamente contra as convenções sociais ? Ora, o dinheiro, como a mais poderosa ficção, apenas poderá ser "subjugado" furtando-se a seu poder:

"Como subjugar o dinheiro, ou, em palavras mais precisas, a força, ou a tirania do dinheiro? Tornando-me livre da sua influência, da sua força, superior portanto à influência, reduzindo-o à inatividade pelo que me dizia respeito a mim. Pelo que me dizia respeito a mim, compreende V.?, porque eu é que o combatia; se fosse reduzi-lo à inatividade pelo que respeita a toda a gente, isso não seria já subjugá-lo, mas destruí-lo, porque seria acabar de todo com a ficção do dinheiro. Ora, eu já lhe provei que qualquer ficção social só pode ser ´destruída´ pela revolução social, arrastada com as outras na queda da sociedade burguesa".
Primeiramente, provou-se que uma revolução social só poderia se concretizar no esforço isolado, libertário, autenticamente individual. Por outro lado, não basta fugir à influência do dinheiro, virar-lhe as costas, ir para o campo, isolar-se completamente. Como na boa crítica imanente dialética, o combate precisa ser assumido no campo do adversário. Descartadas outras formas de ação, resta apenas uma:

"O processo tinha que ser outro - um processo de combate e não de fuga. Como subjugar o dinheiro, combatendo-o? Como furtar-me à sua influência e tirania, não evitando o seu encontro? O processo era só um - adquiri-lo, adquiri-lo em quantidades bastante para lhe não sentir a influência; e em quanto mais quantidade o adquirisse, tanto mais livre eu estaria dessa influência".
Furta-se então ao poder do dinheiro não pela fuga, mas através de enriquecimento pessoal: assim fazendo, acumulando-o, pode-se livrar-se de seu poder. Conclusão: o anarquista que se torna um banqueiro – só este realmente é um anarquista coerente, em sentido prático, não só no discurso teórico. Sem sofismas aparentes, o paradoxo se ergue claramente:

"Trabalhei, lutei, ganhei dinheiro; trabalhei mais, lutei mais, ganhei mais dinheiro; ganhei muito dinheiro por fim. Não olhei o processo - confesso-lhe, meu amigo, que não olhei o processo; empreguei tudo quanto há - o açambarcamento, o sofisma financeiro, a própria concorrência desleal. O quê?! Eu combatia as ficções sociais, imorais e antinaturais por excelência, e havia de olhar a processos?! Eu trabalhava pela liberdade, e havia de olhar as armas com que combatia a tirania?!"
Por fim, a "liberdade" é triunfalmente celebrada:
"Hoje realizei o meu limitado sonho de anarquista prático e lúcido. Sou livre. Faço o que quero, dentro, é claro, do que é possível fazer. O meu lema de anarquista era a liberdade; pois bem, tenho a liberdade, a liberdade que, por enquanto, na nossa sociedade imperfeita, é possível ter. Quis combater as forças sociais; combati-as, e, o que é mais, venci-as.''
Claro, diz ele, que não haverá contradição em se usar o dinheiro, até mesmo valendo-se de métodos desleais para obtê-lo e para atingir a liberdade, pois ninguém se torna um opressor por simplesmente usar uma "ficção social", que, pelo menos aparentemente, não tem origem em qualquer ação dum sujeito simplesmente individual.

"A tirania, que pode ter resultado da minha ação de combate contra as ficções sociais, é uma tirania que não parte de mim, que portanto eu não criei; está nas ficções sociais, eu não ajuntei a elas. Essa tirania é a própria tirania das ficções sociais; e eu não podia, nem me propus, destruir as ficções sociais. Pela centésima vez lhe repito: só a revolução social pode destruir as ficções sociais; antes disso, a ação anarquista perfeita, como a minha, só pode subjugar as ficções sociais, subjugá-las em relação só ao anarquista que põe esse processo em prática, porque esse processo não permite uma mais larga sujeição dessas ficções. Não é de não criar tirania que se trata: é de não criar tirania nova, tirania onde não estava. Os anarquistas, trabalhando em conjunto, influenciando-se uns aos outros como eu lhe disse, criam entre si, fora e à parte das ficções sociais, uma tirania; essa é que é uma tirania nova. Essa, eu não a criei. Não a podia mesmo criar, pelas próprias condições do meu processo. Não, meu amigo; eu só criei liberdade. Libertei um. Libertei-me a mim. É que o meu processo, que é, como lhe provei, o único verdadeiro processo anarquista, me não permitiu libertar mais. O que pude libertar, libertei".

* *
Encravados no tom sério da argumentação, donde vêm o humor e a ironia desse texto ? Da encenação de movimento ascendente à queda grotesca do final, na clara repetição do sempre o mesmo: se o banqueiro, sozinho, tornou-se melhor anarquista, ou pelo menos mais "coerente" que os outros anarquistas "de bombas e sindicatos" – claro que tudo muda para ele, mas nada de substancial muda no todo. Algo do inconsciente social da forma-mercadoria vêm à tona neste trajeto. A série de argumentos reunidos apresentados vai em direção à dispersão. O discurso que põe a necessidade da revolução social escorre inexoravelmente no sentido da individualização monádica do sujeito-monetário. Da presumida revolta à revolução social assumida, desloca-se à ação individual completamente equívoca, e, assim, à reafirmação do capitalismo pura e simples, com a constatação fatalista das irremediáveis desigualdades naturais (de inteligência e vontade) entre indivíduos. Como diria Hegel, apresentando a dialética da "consciência nobre" (edelmütige Bewusstsein) e "da consciência vil" (niederträchtig Bewusstsein): "a arrogância toma o lugar da revolta" (Fenomenologia do Espírito. Petrópolis, Vozes, vol. 2, p.55). O combate social efetivo se perde, nenhuma experiência coletiva se constitui, nenhuma síntese superior se produz. A anarquia libertária desliza e desemboca na velha anarquia da produção capitalista. O "riso alto" do banqueiro, no final de sua exposição, tem algo de sarcástico, cínico, perverso, com um ar de família do sobrinho de Rameau de Diderot, que, na sua consciência dilacerada, constatava: "Ouro, ouro. O ouro é tudo, e o resto, sem ouro, não é nada" (Diderot, Le neveau de Rameau). A vaidosa loquacidade do banqueiro, supostamente de um sujeito autônomo, era apenas dissimulação hipócrita do verdadeiro sujeito do processo, o equivalente-geral, o capital-dinheiro. Mantendo-se como mera "visão moral de mundo" ela tem de incorrer num constante "deslocamento dissimulado" (Verstellung), conforme outra figura crítica de Hegel na Fenomenologia. O banqueiro, enfim, apenas consegue reafirmar a gasta ideologia burguesa da liberdade pessoal pela concorrência e pelo trabalho. Mas, ao fim, revela seu fundo falso, cinicamente assumido, nos métodos desleais de açambarcamento comercial. Em suma, seu processo de formação não leva à autonomia social, mas ao cínico sujeito-monetário bem logrado (aliás, do latim: lucrum).

A retórica do banqueiro, no entanto, desde o início dava sinais de ser o disfarce astucioso da forma abstrata "egoísta" do proprietário. Desde o princípio, o banqueiro exprimia orgulhosamente sua superioridade arrogante: "Eles são anarquistas e estúpidos, eu anarquista e inteligente". Isto, aliás, um dom da natureza: uma "inteligência naturalmente lúcida e uma vontade um tanto ou quanto forte". Inteligência e vontade de devorar o outro, engoli-lo em sua argumentação: as "bestas que defendem a ‘ditadura do proletariado’", os tirânicos anarquistas de grupo, os concorrentes da selva capitalista, o próprio interlocutor e suas objeções lógicas – todos são esmagados pelo rolo compressor de sua retórica, de sua práxis real de capitalista. Assim, na malandragem de sua argumentação ele pode usar todas as "manhas" e "artes" que tinha rejeitado nos grupos anarquistas. O eu subjuga e anula o outro, pela força hipnótica da argumentação dissimuladora. Noutro momento de sua argumentação, dita "materialista", irá afirmar o egoísmo, a busca do prazer para si, como condição natural. Coloca, então, a noção de dever (de solidariedade e bem coletivo) sob suspeita: como seria ela natural se contraria nosso egoísmo, nosso instinto de autoconservação natural? Sua resposta será subordinar a meta social à individual:

"Esta idéia de dever, isto de solidariedade humana; só podia considerar-se natural se trouxesse consigo uma compensação egoísta."

Aqui vem à tona a forma social do moderno sujeito da concorrência. O interlocutor, ofuscado pelo raciocínio, ainda reclama: "V. não resolveu a dificuldade... V. foi para diante por um impulso absolutamente sentimental..." - mas está ali justamente para ser embrulhado por mais um deslocamento dissimulado: "É curioso...[diz o interlocutor] - É... Agora deixe-me continuar na minha história".

Nesses deslocamentos dissimulados, seu modo de existência é o do limite, claro-escuro, entre o moral e o imoral, a potência e a impotência, o ser e o nada. Por um lado, sua sóbria postura e seriedade, expostas em seus gestos firmes e límpida retórica, são disfarces de sua impostura e descaramento. Da hipócrita defesa da liberdade intransigente passa-se à defesa liberal totalmente cínica da dominação. De um argumento como este...
"Claro está que não temos que olhar a não estorvar a `liberdade' dos poderosos, dos bem situados, de todos que representam as ficções sociais e têm vantagens delas. Essa não é liberdade; é a liberdade de tiranizar, que é o contrário da liberdade. Essa pelo contrário, é o que mais devíamos pensar em estorvar e em combater."

... desloca-se e treslouca-se a este:
"A tirania, que pode ter resultado da minha ação de combate contra as ficções sociais, é uma tirania que não parte de mim, que portanto eu não criei; está nas ficções sociais, eu não ajuntei a elas. Essa tirania é a própria tirania das ficções sociais; e eu não podia, nem me propus, destruir as ficções sociais".

Mas esse poder é simulação ele próprio. No fundo, o banqueiro é tão impotente quanto os seus outros:

"eu não podia, nem me propus, destruir as ficções sociais", ou seja, "a ação anarquista perfeita, como a minha, só pode subjugar as ficções sociais, subjugá-las em relação só ao anarquista que põe esse processo em prática, porque esse processo não permite uma mais larga sujeição dessas ficções (...)O próprio processo me impedia de fazer mais. Que mais podia fazer?".

Em outras palavras, como diz o próprio banqueiro, se julgamos a sociedade anarquista impossível, pela "boa lógica", "seremos defensores do regime burguês". Potente de fato é o fetiche do dinheiro, que não tem nada de pura ficção: pois é a abstração terrivelmente real do "trabalho socialmente necessário" ou "trabalho social abstrato" (Marx, O Capital). Seu poder encarnado no indivíduo capitalista, sim, tem algo de fictício, de pura contingência, como uma mera máscara de seu "capital-fictício" (Marx, ibid.). Só assim, no imbróglio de sua argumentação paradoxal, ele pode se reconciliar cinicamente na mais absoluta dilaceração: "Eu libertei-me a mim; fiz o meu dever simultaneamente para comigo e para com a liberdade. Por que é que os outros, os meus camaradas, não fizeram o mesmo? Eu não os impedi".

Mas, por fim, o eu que subsume o outro e a si torna-se vazio. Por trás do anonimato do banqueiro (e de seu interlocutor) já se vislumbrava a vã máscara mercantil fetichista. Por trás da máscara do sujeito-monetário há o nada. "De telles gens ne sont ni parents, ni amis, ni citoyens, ni chrétiens, ni peut-être des hommes: ils ont de l’argent", dizia La Bruyère ("Tais pessoas não são nem pais, nem amigos, nem cidadãos, nem cristãos, nem homens, talvez: elas têm dinheiro"), num momento de consolidação da forma-dinheiro na sociedade européia. Não só o poeta dos heterônimos, mas também "Fernando Pessoa ele mesmo" constatava isso, num de seus escritos não-literários:

"o comerciante não tem personalidade, tem comércio; a sua personalidade deve estar subordinada como comerciante, ao seu comércio; e o seu comércio está fatalmente subordinado ao seu mercado, isto é, ao público que o fará comércio e não brincadeira de crianças com escritório e escrita" (Fernando Pessoa, "A essência do comércio").

* *
São conhecidos os pendores nacionalistas, místicos e mesmo autoritários de Fernando Pessoa, não obstante todo seu ceticismo moderno – típicos aliás de um leitor de Nietzsche. Definiu-se politicamente como liberal, anti-socialista e anti-comunista. Sabe-se também que apoiou indiretamente, em certo contexto histórico, o começo da ditadura de Salazar, apesar de mais tarde remedar saticaricamente dela. Talvez, "O Banqueiro Anarquista" estava inserido em tal contexto objetivo-subjetivo: rebaixando ideologias revolucionárias através do uso de seus próprios meios, isto é, da argumentação esclarecida, o texto poderia implicitamente ter a intenção de legitimar a necessidade de um Estado autoritário para o desenvolvimento moderno de nações periféricas; a mofa posterior do ditador sendo apenas a de uma ditadura que se tornou "mesquinha" demais, "menor" do que a "necessária", incongruente com a grandeza pátria imaginada pelo cantador de "Mensagem".

Mas não se pode julgar um texto simplesmente pelas intenções do autor, se é que essas eram elas. Em todo caso, o trabalho literário é mais que um documento histórico factual. Tal texto pode ser, talvez, libertado da voz pessoal do autor. Um texto é virtualmente múltiplo, ambivalente, tal como os heterônimos de Pessoa prometiam ser. O paradoxo armado não é simplesmente o falso ou o meramente ideológico. Contradições foram aparentemente dirimidas, mas para nós, nas entrelinhas, foram apresentadas e aprendidas: a esterilidade da verve esclarecida que gira em falso, na má infinidade do discurso lógico, sem teor prático efetivo, sem real superação (Aufhebung).
O leitor turco talvez encontrará no "Banqueiro Anarquista" um traço familiar em sua própria tradição narrativa. Tal forma narrativa paradoxal, fundada no regime da má infinidade, da contradição dissimulada, é algo comum às "periferias do capital"(Schwarz): pense-se na obra crítico-negativa do brasileiro Machado de Assis (especialmente em "Memórias Póstumas de Brás Cubas"), na obra de Goethe na Alemanha, ou em Dostoiévski na Rússia. Mas, talvez, na cultura pós-moderna do capitalismo mundializado atual, que patina em suas próprias contradições sem sair do lugar, não será difícil reconhecer por todos os lugares, em todos os níveis, as mesmas estratégias hipócritas e cínicas do discurso de nosso banqueiro.
(setembro/outubro 2005. Texto para uma apresentação da tradução turca do livro).

6 comentários:

Dimas Dion disse...

Nesta ótica o preço da anarquia é transcender a plutocracia até que os fins justifiquem os meios. Nietzsche em vontade de potência defenderia algo parecido, mas não condiz com a sociedade judaico-cristã em que vivemos que acima de tudo preconiza a solidariedade. Pensar neste tipo de julgamento corresponde a dar carta branca às todas as guerras e ao momento que o mundo vive hoje.

Unknown disse...

É preciso nos libertarmos e libertarmos a todos, ou nos libertarmos individualmente? Qual seria o papel de quem é livre para com a sociedade?

Unknown disse...

Acho mesmo que o cinismo do personagem em questão, nos faz refletir sobre as convençoes da cultura e sua amarras a liberdade... Fiquei pensando, não seria este personagem um Bufão, que nos faz olhar pra dentro do nosso ridiculo mundo, que joga a fé pelo chão e acaba com a esperança... Em um primeiro momento me senti como que sem pernas, mas, apoiado no que conheço de Spinoza, me ergui como homem potente, que deseja que todos sejam potentes e livres... Sem de fato, nenhum tipo de ficção, nem um tipo de pilar que sustente a compaixão e a solidariedadem, mas que deseja e por desejar vive em plena consciencia do devir, como como sem orgão, negando a culpa e a divida infinita... Assim me senti com esse texto... Como que precisando nascer novamente, renovar, vida nova... Nao para ser egoista ou egocentrico, mas pra dar a mim mesmo a chance de ser sem peso. Fernando Pessoa em 1922, talvez tenha consiguido prever ou ver as tiranias todas que viriam e que estavam proclamadas em nome do bom senso. O que podemos, olhando o mundo depois de todos estes anos, é saber que por medo, tenhamos perdido o sentido de liberdade, por medo colocamos nas mão do senso comum nossas vidas...
Ainda estou um pouco confuso, depois de ler o texto e seu artigo, quando as coisas estiverem mas claras volto a escrever.

Obrigado

Fernando Lopes Lima

Anônimo disse...

é preciso saber se liberdade é, apenas por si só, um benefício sempre

Anônimo disse...

O Banqueiro Anarquista parece-me mais um heterónimo, dado que, enquanto pessoa, justifica o que faz dele um anarquista. É através do diálogo que se apresenta e justifica as suas teorias à semelhança dos diálogos socráticos, tentando levar o seu interlocupor a concordar com o que diz.Uma frase lapidar que emprega é "cada um deve ser o que é" excluindo a solidariedade. Nesta perspectiva, é aceitável que se cada um activar a sua inteligência, a sua vontade, ou a sua criatividade, individualmente estará a contribuir para a paz universal, não tiranizando ninguém. É certo que, por si só, o Banqueiro tenta colocar-se à margem das ficções sociais, mas é através delas que enriquece. Este enriquecimento poderá provar que é possível ao homem reunir um potencial capaz de individualmente, contribuir para a paz universal, realizando-se a si e em si realizando o ser dos outros?

Maíra Lana disse...

A violência – ou talvez apenas o assassínio – e as disputas de poder, bem como a presença de lideranças, todos estes aspectos evidentemente tratados sob uma perspectiva humana, a única que nos é acessível em nossa própria Umwelt, é algo bastante comum entre quaisquer grupos de animais. Assim, a tirania não seria uma “ficção social” construída com base em anos de mergulho em muitas hierarquias criadas por elas, como leva a crer Fernando Pessoa, mas parte sim, da natureza não só humana, como animal. Observando a natureza animalesca é difícil crer que o retorno aos primórdios pudesse resgatar tal redenção. Ao contrário, ao associar a tirania a uma característica do animal, indistintamente, talvez seja justamente a evolução espiritual, mental, psicológica humana, o que possa levá-lo a um lugar da busca de uma possível harmonização anárquica, se é que isso é possível.